OPINIÃO | Eleição no DF se encaminha para decisão em primeiro turno

Aliança entre os grupos de Ibaneis Rocha, Celina Leão e os Arruda é o melhor caminho para as Eleições 2022

Por Ricardo Callado

Quem acompanha a política no Distrito Federal nas últimas três décadas observa que a fragmentação de grupos acaba trazendo prejuízo político. Foi assim em algumas ocasiões nas últimas décadas.

A união selada na noite desta terça-feira (19), mediada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), entre o governador Ibaneis Rocha (MDB), a deputada federal Celina Leão (PP), a ex-ministra Flávia Arruda (PL) e o ex-governador José Roberto Arruda (PL), foi sem dúvida o melhor caminho para manter a estabilidade político-administrativa para o Distrito Federal.

O ajuntamento das principais liderança do DF tem tudo para definir a eleição de 2022 em primeiro turno e mostra um retrato no que pode vir para o futuro pleito de 2026.

A chapa com Ibaneis à reeleição, Celina de vice e Flávia Arruda ao Senado é a mais forte e mais organizada politicamente.

Quando citamos estabilidade, falamos do sério enfretamento a pandemia da Covid-19 no DF, a retomada do crescimento da economia e a ampliação de programas sociais para atender a população, principalmente aos mais carentes. Junta-se a isso a parceria feita com os empreendedores que ajudaram nessa luta de retomada.

O pior momento que o país passou durante a pandemia foi tratado no Distrito Federal como exemplo para outras unidades da Federação. Ibaneis saiu fortalecido e comprovou sua capacidade administrativa. E a população reconheceu isso.

Com a união de força na montagem da chapa para as eleições deste ano, mostrou-se também hábil politicamente.

O reconhecimento dessa competência está estampada em todas as pesquisas já divulgadas e registradas na Justiça Eleitoral, onde Ibaneis aparece sempre como favorito, e em algumas chegando perto da vitória em primeiro turno, enfrentando inclusive o ex-governador Arruda.

Com a união de força, a realidade de liquidar o pleito no início de outubro ficou ainda mais plausível.

É uma análise razoável para se dizer o mínimo. A realidade toca a porta dos adversários, principalmente das legendas de centro esquerda, esquerda e extrema esquerda, que batem cabeça para montagem de chapas e alianças. O resto é puta torcida e especulação.

Izalci, o resiliente

O anúncio da montagem da chapa de Ibaneis foi um duro golpe e teve suas consequências. A primeira foi o anúncio imediato da pré-candidatura da deputada federal Paula Belmonte ao GDF, pelo Cidadania, o antigo Partido Comunista do Brasil, que tem como dono o deputado Roberto Freire. Quem conhece Freire, sabe que lealdade ali passa longe. Muitas vítimas do deputado já ficaram pelo caminho, inclusive no DF.

Belmonte tratou logo de rifar candidatura do senador Izalci Lucas (PSDB), que desde as ultimas eleições almeja disputar o Palácio do Buriti. O Cidadania e o PSDB formam uma Federação Partidária e só tem vaga para um deles na cabeça de chapa.

Izalci é um resiliente. Sempre leva um pernada de seus aliados, mas no final sai como vencedor. Foi assim, por exemplo, em 2018, quando foi enganado pelo senador Cristóvam Buarque (PDT) e o deputado Rogério Rosso (então PSD).

Rifaram a candidatura de Izalci ao GDF, mas ele se elegeu senador derrotando o próprio Cristóvam e Rosso perdeu para governador. Enquanto ambos sumiram do cenário político, Izalci está entre os parlamentares mais influentes do Congresso Nacional.

Em 2022, o Cidadania e o PSDB estão fadados a sumir o mapa político do Distrito Federal, talvez nem conseguindo eleger deputados distritais e federais. O sobrevivente poderá ser apenas Izalci Lucas, que manterá o seu mandato no Senado por mais quatro anos.

E quem perder a eleição vai para o ostracismo. Isso acontece muito quando o político deixa o fracasso subir na cabeça.

De Bolsonaro ao colo do comunista

Paula Belmonte ficou perdida nas eleições igual uma barata tonta. Não terá votos da direita, nem da esquerda. O seu marido, Luiz Felipe Belmonte, que ficou à frente da mal fadada montagem do partido Aliança pelo Brasil, não teve êxito. Tentou agradar o presidente Bolsonaro e acabou o colo do comunista Roberto Freire. Houve mais polêmica do que sucesso na criação do partido. O episódio diminuiu a força que os Belmonte achavam que possuíam.

Isso não tira os méritos de Paula Belmonte na Câmara dos Deputados. Ele é uma boa parlamentar e atuante. A Casa vai perder com a saída dela. E também uma pena que a eleição pode abreviar a carreira política promissora de Paula, que ainda está em seu primeiro mandato de parlamentar.

Reguffe isolado

Ainda no campo da esquerda, Reguffe (UB) se vê isolado. Contava com apoio de Izalci e Paula. Poderá ficar sozinho ou até desistir da campanha porque as pesquisas mostram poucas chances. Na maioria delas não consegue chegar a dois dígitos de intenção de voto.

Reguffe demorou demais a decidir o queria e pra onde ir. Acabou irritando aliados, desestabilizando formação de nominatas e esquecendo que combinar com o eleitor.

A seu favor tem o maior fundo eleitoral do país. O seu partido, o União Brasil, do deputado  e pré-candidato a Presidência da República, Luciano Bivar, é o mais afortunado, com centenas de milhões de reais do contribuinte para torrar durante a campanha deste ano. Essas campanhas não visam vitórias, mas metem muita a mão no fundo eleitoral.

Aproveitando os holofotes

Leila do Vôlei (PDT) vai se aventurar para não ficar oito anos escondida no Senado, onde já foi comparada até com a ex-presidente Dilma, por não conseguir, algumas vezes, ter um raciocínio claro em alguns discursos. Já é uma parlamentar que vai entrar no folclore político no Congresso, chama de Dilma do Vôlei.

Como é muito nova, Leila ainda pode dar uma guinada em sua carreira, com posições mais lúcidas e sem cair na tentação da lacração. Mas enquanto estiver pagando o seu pedágio ideológico para conseguir espaço na mídia, vai continuar ladeira abaixo. Mas na política como na vida, o amadurecimento mudam as pessoas e sua forma de pensar e agir.

Bagaço da laranja

O PT não terá candidato próprio. Optou por apoiar o distrital Leandro Grass (PV), um dos menos votados nas eleições de 2018. E que deve se despedir da política em 2022. Sua função será de atirador contra os adversários e fazer o palanque para o ex-presidente Lula.

Grass está sendo usado pela esquerda e extrema esquerda. Depois vão jogar o bagaço fora. Esse filme é repetido e nem merece muitas considerações. Grass poderia analisar melhor o que estão fazendo com ele e repensar sua jornada para esse ano.

Também é muito novo e pode amadurecer politicamente. Com mais bagagem, teria mais chances no futuro de conseguir mandatos mais altos.

Resumo de 2022

Esse é um cenário atual da disputa no Distrito Federal. Para resumir, Ibaneis é favorito, Izalci um sobrevivente, Leila não quer ficar fora do debate, Paula e Grass, ambos nos primeiros mandatos, podem ficar quatro anos distantes da política, no ostracismo.

Mas 2026 é logo ali. E os players dessas disputa também já estão formando suas alianças. Parece longe, mas não é. Quem não enxerga isso, tende a se colocar como bobo.

  • Ricardo Callado é analista político, jornalista e editor-chefe do Portal do Callado

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