O multiartista Eder Santos traduz mineiridade em arte-tecnologia em ‘Estado de Sítio’

A exposição, na Fundação Clóvis Salgado, reúne seis grandes obras do artista plástico mineiro, além de uma instalação na abertura

A exposição Estado de Sítio traz para a Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, na Fundação Clóvis Salgado (FCS), entre 23 de novembro a 22 de janeiro, mais do que um chamado à reflexão sobre o estado de exceção sugerido pelo nome.

As seis obras expostas, sendo quatro inéditas, passeiam – com suporte tecnológico utilizado como pincel – pelo barroco, a religiosidade, o desejo e a culpa, pelo corpo-produto-sexualizado do homem contemporâneo, pelas tensões sociopolíticas da atualidade, sem, claro, deixar de lado o cinema e o vídeo, que acompanham o artista desde a infância.

Vídeoarte e poesia

‘Cascade’ é a instalação que abre a mostra. Em cena, uma cascata de televisões jorra imagens criadas por Eder em parceria com o também videoartista Leandro Aragão.

Já a instalação que batiza a exposição, ‘Estado de Sítio’, mostra o banho de um homem a partir de imagens projetadas em um monólito de vidro. Em cena, o ser exibido, narciso, que assiste ao seu reflexo estremecer no espelho d’água, no monólito que continuamente recebe e repele o reflexo nu.

Todos os Santos é uma série na qual o artista cria, à sua maneira, representações de santos e santas com o compromisso de atravessar as fronteiras das religiões em um gesto genuinamente popular. Eder avança por sobre o sincretismo religioso mineiro para fazer provocações e homenagens.

A religião está presente ainda em ‘A Casa dos Sinais Flutuantes’, espécie de visão pós-moderna do conceito das casas de Ex-Votos, espaços das igrejas onde os devotos pagam promessas e/ou agradecem as graças alcançadas. São utilizados negatoscópios, equipamentos que permitem médicos lerem os raios-x do corpo humano, para sobrepor aos raios-x de imagens que revelam o sentimento religioso, a culpa e o desejo.

Integram a exposição litogravuras, inéditas, do artista e ainda a videoinstalação (não inédita) ‘Distorções Contidas’, que faz alusão a uma das principais obras de Marcel Duchamp, ‘O Grande Vidro’. São projetadas, em duas janelas feitas com lâminas de vidro, imagens fragmentadas de uma mulher e de um homem nus descendo uma escada.

As transformações da linguagem cinematográfica são questionadas por Eder Santos na obra Cinema, grande projeção que imita uma sala de cinema. Durante a mostra, uma tela no final da Grande Galeria exibirá continuamente dois filmes: ‘Cinema’ (2009) e ‘Pilgimage’ (2010).

Multiartista mineiro

A história de Eder Santos com os vídeos remonta há 30 anos, quando ainda era estudante de arte, momento que já trabalhava com a tecnologia de ponta e fundou uma das primeiras produtoras de vídeo de Minas Gerais, a Videocom, que posteriormente transformou-se em vídeo.

Já em 1980, realizava vídeos de alguns artistas de Minas Gerais, mas a videoarte, já presente em seu trabalho, ganhou relevância quando em sua participação no VideoBrasil, a partir de 1986.

Outro ponto positivo foi o convite de Nelson Brissac para a sua participação no projeto Arte-Cidade, em São Paulo; essas experiências contribuíram para sua inserção no circuito artístico naquele momento.

Desde 1985, o artista vem colecionando prêmios por sua produção. Recebeu vários prêmios no Festival Internacional Videobrasil, sendo o primeiro com o Vídeo Experimental VHS, com o vídeo Interferência.

Recebeu a Bolsa Rockfeller, que resultou em um longa-metragem. Na Holanda, recebeu um prêmio com a obra Enciclopédia da Ignorância, com uma videoinstalação. O vídeo Janaúba recebeu o prêmio de Melhor Vídeo na Videobrasil, e recentemente, o Prêmio Petrobras para fazer um longa-metragem.

 

Assim Eder Santos informa sobre seu novo projeto
a ser lançado neste ano, o longa-metragem Deserto Azul.
“É um projeto que deve ser concluído este ano e vai ser um dos poucos filmes de ficção científica brasileiros. E nele me orgulho muito de ter trabalhado com André Hallak, Barão Fonseca, Leandro Aragão, meus sócios na Trem Chic. Foi uma energia incrível fazer essas filmagens. E não posso esquecer de falar que Mônica Cerqueira, a pessoa mais importante da nossa cultura audiovisual, foi a grande parceira e corroteirista do filme e também que a participação de Daniel Toledo, ator e jornalista, fizeram acontecer esta ficção científica mineira. E, claro, onze artistas plásticos, dentre eles nossa querida Adriana Varejão, que nos presentearam com seus talentos no nosso filme”
Eder Santos, artista plástico

Eder Santos mantém firme a proposta de envolver as pessoas em um mundo de ideias e reflexões, sempre questionando o momento em que vivemos. Além de colocar a tecnologia a serviço da arte, o artista não abre mão da delicadeza, mesmo na abordagem de temas impactantes. O peso de imagens que provocam é contrabalançado por fina e irônica poesia.

Estado de Sítio

23 de novembro de 2016 a 22 de Janeiro de 2017

Local: Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, Fundação Clóvis Salgado

De terça a sábado, das 9h30 às 21h, e domingo, das 16h às 21h

Infomações: (31) 3236-7400

Seja o primeiro a comentar on "O multiartista Eder Santos traduz mineiridade em arte-tecnologia em ‘Estado de Sítio’"

Faça um Comentário

Seu endereço de email não será mostrado.


*