Especial Césio-137: 30 anos do maior acidente radioativo do mundo

Um amplo e detalhado relatório das ações, pesquisas de monitoramento, demonstrativos de assistência e programas de amparo e proteção aos radioacidentados, assim como as lições aprendidas com o acidente em várias áreas foram elaborados pelo Governo do Estado, para marcar os 30 anos do acidente com o Césio-137, ocorrido em setembro de 1987 em Goiânia.

O manuseio de um aparelho de radioterapia abandonado onde funcionava o Instituto Goiano de Radioterapia com uma fonte que continha cloreto de césio, composto químico de alta radioatividade, gerou um acidente que envolveu direta e indiretamente centenas de pessoas. Foi assim que a abertura da cápsula, contendo o elemento radioativo no dia 13  de setembro, registraria o maior acidente nuclear em área urbana no mundo.

Leide das Neves, 6 anos. A primeira vítima fatal do acidente

Leide das Neves, 6 anos. A primeira vítima fatal do acidente

O resultado imediato foi a morte da menina Leide das Neves, de 6 anos, que deu nome à primeira instituição, a Superintendência Leide das Neves, criada pelo Governo de Goiás para realizar os socorros iniciais e amparar de imediato as vítimas, familiares e vizinhos ao acidente.

Em 1989, o monitoramento às vítimas passou a ser feito pela Fundação Leide das Neves e desde 2011 está sob responsabilidade do Centro de Assistência aos Radioacidentados (C.A.R.A), unidade ambulatorial que presta atendimento exclusivo aos radioacidentados.

Depois de Leide das Neves, outras três pessoas morreram logo na sequência, também vítimas do acidente. Hoje, ao completar trinta anos da tragédia, sabe-se que o número de vítimas fatais chega a 66. Atualmente, segundo dados divulgados pelo Governo de Goiás, 1.200 pessoas são consideradas radioacidentadas.

Entre os atos em memória aos 30 anos do acidente, a Secretaria da Saúde (SES-GO) participa do evento científico International Joint Conference  Radio 2017, representada pelo C.A.RA. O encontro será de 25 a 29, segunda a sexta-feira, no Centro de Convenções de Goiânia, e é organizado pela Sociedade Brasileira de Proteção Radiológica, em cooperação  com a Agência Internacional de Energia Atômica, a Sociedade Portuguesa de Proteção contra Radiação e Associação Brasileira de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção (Abendi).

Monitoramento Permanente Oferecido pelo C.A.R.A aos Radioacidentados,  Expostos Pertencentes aos Grupos I, II, seus descendentes e Grupo III:césio-01 As pessoas expostas ao Césio 137, desde 1987 são monitoradas, de acordo com os protocolos internacionais, pelo C.A.RA./SCAGES/SES-GO.

Abaixo a categorização dos grupos de monitoramento. No total, são cerca de 1200 assistidos

Grupo I: Indivíduos com Síndrome Aguda da Radiação e/ou irradiados com > 0,2 Greys e/ou contaminação interna > 50 µCi (50 % LIA) (n=56)

Filhos de Grupo I – (n=46)

Netos de Grupo I – (n=3)

Óbitos: n=11

Total atual: n= 94

Grupo II: Indivíduos irradiados com < 0,2 Greys (n=46)

Filhos de grupo II – (n=42)

Netos de grupo II – (n=3)

Óbitos: 3

Total atual: n= 88

Grupo III: Indivíduos sem contaminação/irradiação trabalhadores (soldados, bombeiros militares, profissionais da saúde, motoristas, funcionários da Visa, Crisa, Comurg); vizinhos de focos; parentes das vítimas (n= 1036)

Óbitos: 77

Total atual: n= 959

C.A.R.A:
A unidade oferece diversas especialidades biomédicas (clínica geral, ginecologia, oncologia, pediatria, odontologia, enfermagem, psicologia) e assistência social, cujos esforços são para proteção, promoção e recuperação dos agravos de saúde.

Ao atendimento especializado, os indivíduos são encaminhados aos profissionais do SUS e  também aos do serviço de assistência suplementar, Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás / Ipasgo, do qual possuem totalidade nas consultas, exames e internações hospitalares (modalidade básica), gratuito e de qualidade.

Também são realizadas visitas domiciliares. Outro tipo de consulta específica realizada é a de monitoramento dos efeitos tardios da radiação nociva em seres humanos. o diretor geral do C.A.R.A, André Luiz de Souza, explica que conforme o surgimento de agravos é utilizada toda a capilaridade do SUS, via SES-GO e intercâmbios com instituições  parceiras, como a Cnen, IRD e  Instituições de Ensino Superior (PUC-Goiás, AEE, UFG,  USP e outras).

Ele afirma ainda que “é garantida a disponibilização de veículo para o transporte aos locais de assistência médica e laboratorial aos pacientes dos Grupos I e II. Há concessão de medicamentos da farmácia básica pela Secretaria da Saúde e distribuídos pelo C.A.RA. Atualmente, mais de 650 pacientes são beneficiados  pelo pagamento de pensões especiais vitalícias previstas por lei estadual e/ou federal.

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Pensões 
Após o acidente com o Césio em Goiânia, 751 vítimas diretas ou indiretas foram beneficiadas com o pagamento de pensões estaduais e/ou federais,  concedidas com fundamento nas Leis Estaduais nº 10.977/1989,  nº 14.226/2002 e Lei Federal nº 9.425/1996, mediante  regulares processos administrativo ou judiciais.

Os pensionistas estaduais somam 265 pessoas; 486 pessoas recebem o benefício federal, sendo que 116 pessoas recebem cumulativamente as duas pensões. O número atual de pensionistas é  de 751 pessoas já incluso quem recebe ambas. Os valores das pensões estaduais e federais são calculados sobre  o valor do salário mínimo. Neste contexto, há 13 pessoas que recebem valor cumulativo de 2 pensões estaduais além da pensão federal, que está no valor  de um salário mínimo vigente.

Conforme rotina dos processos de pensões administrativas ou judiciais registramos demanda anual de 100 novos requerimentos de concessões de benefícios pecuniários ou de assistência de saúde multidisciplinar para avaliação das Juntas Médicas e equipe técnica do  C.A.R.A.

Lições Aprendidas
Os cuidados implementados em Goiânia foram importantes para ratificar o conhecimento mundial sobre os efeitos imediatos da exposição radioativa, os protocolos de descontaminação imediata e os protocolos de monitoramento a longo prazo.

Lições para a  área médica
O acidente com o Césio 137 acrescentou importantes conhecimentos para os profissionais da medicina. Lidar com os efeitos da radioatividade há 30 anos era um assunto dominado por poucos médicos. Destacam-se algumas conclusões essenciais ao tratamento de pacientes atingidos por radiação: a importância dos cuidados de enfermagem aos pacientes atingidos e sequelados; a curva hematológica obtida com exames sistemáticos, pode ser utilizada como parâmetro para intervenções; o uso da citoquina GM-CSF no tratamento; o medicamento Azul da Prússia foi utilizado em 46 pacientes sem efeitos colaterais importantes; os banhos com água e sabão várias vezes constituem método efetivo de descontaminação (50 – 80%); a necessidade dos profissionais de saúde conhecerem as manifestações patológicas da exposição acidental às radiações.

Lições para Vigilância e Contenção de Emergências
Em primeiro lugar, o acidente com o Césio, ocorrido em área urbana, residencial e partir de um aparelho de diagnóstico médico, revela a importância do absoluto controle das fontes de radiação.

Em segundo, na contenção de ocorrências do tipo, são importantes: os planos de resposta pré-estabelecidos, com uma direção para os planos de emergência e o caráter multidisciplinar da resposta; a cooperação internacional nas fases aguda e de seguimento; os treinamentos e atualizações das equipes; a importância de equipamentos de emergência modernos, com calibração e manuais de instrução.

Ainda são fundamentais em ocorrências semelhantes, o registro das informações adequado ao público para impedir o pânico e a necessidade de porta voz oficial capacitado para a informar a população.

São medidas efetivas contra a contaminação ambiental: o uso de aspiradores com filtros de alta eficácia para limpar todas as superfícies; a poda de árvores e o descarte dos frutos.

Desafios e avanços
fachada caraSobre outros avanços, o diretor geral do C.A.R.A, André Luiz de Souza, destaca a universalização da assistência do Ipasgo para todos os grupos de monitoramento; assistência especializada prestada pela unidade; a implantação do prontuário eletrônico, denominado Sisrad – Sistema de Monitoramento dos Radioacidentados, ferramenta que otimiza as consultas e gera dados rapidamente.

Dentre os desafios, segundo o diretor, a unidade segue na estratégia de atuar com excelência nos serviços de ambulatório multidisciplinar, com o  profissionalismo dos colaboradores e com foco no incremento da humanização de atendimento presencial, domiciliar e acompanhamento de pacientes hospitalizados. Requer manter a cooperação da rede assistencial do Ipasgo e estender aos pacientes, a regulação facultativa para os serviços do SUS.

Outras ações consideram discutir, ampliar e fortalecer o papel do C.A.R.A. junto à sociedade laica e acadêmica, visando atender novas demandas de estudos científicos, com a finalidade de garantir as obrigações institucionais assim como disseminar  as pesquisas relevantes à temática  monitoramento dos radioacidentados.

São desafios reestruturar as vias para a cooperação nacional e  internacional (por exemplo a participação em eventos, monitoramento conjunto dos radioacidentados, disseminação das informações); para a atualização técnica equalificação do pessoal da assistência em geral, especialmente médicos e enfermeiros, quanto às manifestações patológicas da exposição acidental às radiações. Novas  estratégias  são necessárias para recuperação, manutenção e divulgação do acervo histórico da unidade.

O C.A.RA. funciona das 7 às 19 horas.
Endereço:  Rua 16-A, nº 792, Setor Aeroporto, em Goiânia. CEP: 74075-150.
Telefones: (62) 3201-4220, 3201-4234,
Site: http://www.cesio137goiania.go.gov.br
E-mail: [email protected]

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