Equoterapia do Crer: referência nacional em reabilitação

De três em três meses, a pequena Sofia de Oliveira tinha vômitos e febre. Sempre que a mãe Andreia Gomes a levava às unidades hospitalares, os médicos atribuíam esses sintomas ao fato de ela ter nascido prematura e ter uma saúde mais frágil. Aos três anos, em uma dessas crises, a pequena Sofia começou a desfalecer, teve um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico e foi encaminhada imediatamente com infecção generalizada para a UTI.

Foto: LéoIran

Cada dia a pequena Sofia de Oliveira se desenvolve mais

“Minha filha não voltou mais do jeito que era. Passou quatro meses no hospital. Parou de andar, de falar, de enxergar …” . Sofia foi diagnosticada com um tipo do Erro Inato de Metabolismo (EIM), que causa atraso motor, cognitivo e cardíaco. Os EIM’s são ainda pouco conhecidos e pouco diagnosticados e tem a ver com o transporte e armazenamento de moléculas no organismo.

Após diagnóstico, a mãe Andreia conta que a família – ela, Sofia e o marido – se mudou de Rondônia para Goiânia em busca de um tratamento mais eficiente para a filha. No Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer), encontraram terapias para a melhora contínua da pequena. “O Crer nos motivou muito, porque estávamos preocupados com a reabilitação dela. Recomeçamos nossa vida em Goiânia. Largamos tudo para trás por amor a ela”. Desde 2014, mãe e filha vão três vezes por semana à entidade fazer diversas terapias, entre elas uma em especial, que faz há um ano: a equoterapia.

A equoterapia é um método terapêutico que utiliza cavalos para estimular movimentos e complementa o tratamento de indivíduos com deficiências ou necessidades especiais. Os pacientes que recebem tratamento no Crer, quando recomendado pelo médico, fazem equoterapia. Andreia conta que a filha adora fazer carinho no cavalo. “Sofia foi acolhida aqui no Crer. Teve mudança de postura, de equilíbrio. Ela mal sentava quando chegou aqui. Era ansiosa e gritava. Agora já sabe esperar mais, consegue trocar os passos, melhorou em tudo”. Hoje, aos sete anos, Sofia prova que é uma pequena guerreira, evoluindo dia após dia.

Serviço gratuito

Durante 30 minutos, uma vez por semana, acompanhada por uma equipe multiprofissional, Sofia passeia a cavalo pela área da Cavalaria da Polícia Militar, que fica ao lado do Crer, no Setor Negrão de Lima. Em um ambiente tranquilo e arborizado, crianças a partir dos três anos e adultos de qualquer idade aproveitam o espaço e ao mesmo tempo aprendem – e reaprendem – a melhorar a postura, a dicção e a ter contato com pessoas e animais.

Foto: LéoIran

“A gente precisa de um animal mais dócil e tranquilo”, explica Cloves Alencastro

Responsável pela área administrativa da equoterapia do Crer, Cloves Alencastro explica que a Cavalaria cede as baias para os animais repousarem, além da alimentação e do serviço veterinário. Atualmente o Crer conta com 12 cavalos, 10 foram doados à entidade e dois cedidos pela Cavalaria. “Enquanto eles [policiais da Cavalaria] precisam de animais mais fortes, a gente precisa de um animal mais dócil e tranquilo”, diz Cloves.

Ele explica que todos os animais passam por um processo de adaptação para se acostumarem com os materiais lúdicos utilizados pelos profissionais. Psicólogos, fonoaudiólogos, terapeuta ocupacional e fisioterapeutas unem seus conhecimentos e toda a energia positiva para transmitir aos praticantes, como são chamados os pacientes naquele espaço. Realizando 240 atendimentos por semana, o Crer oferece a equoterapia de forma gratuita. Segundo o fisioterapeuta Pedro Almeida, “é o único serviço de Goiás que é 100% SUS. Não tem gasto com este tipo de atendimento”.

Por que o cavalo?

Foto: LéoIran

“O cavalo tem uma marcha parecida com a nossa”, diz Pedro Almeida

O cavalo tem uma marcha muito parecida com a nossa, de humanos. “Quando a gente anda, a gente faz um movimento em três planos e o cavalo tem essa mesma característica. O paciente, quando montado no cavalo, recebe esse movimento do cavalo, é absorvido pelo corpo, encaminhado para o cérebro, processado e acontecem as respostas motoras. Começa a ter resposta muscular, articular, cerebral. Temos ganhos importantes que, muitas vezes, fazendo fisioterapia convencional no tablado, não consegue.”, explica o fisioterapeuta Pedro.

É o caso da pequena Ana Luisa Rodrigues de 4 anos, que está há apenas dois meses na equoterapia após indicação do médico do Crer. A mãe Maria Amélia Rodrigues conta que a filha tem paralisia cerebral e microcefalia. “Ela gosta muito daqui. Tem contato com outras crianças e já vi uma melhora”.

Foto: LéoIran

Ana Luisa está há 2 meses na equoterapia

Segundo Pedro, Ana Luisa não tem controle de tronco nem da cabeça. “O nosso trabalho é estimular esses músculos que não são trabalhados por ser cadeirante e, com isso, fazer com que ela consiga mais independência, evolua e consiga ficar em pé. A gente visa uma qualidade de vida melhor tanto pra ela quanto pra mãe dela”, explica.

A terapeuta ocupacional, Izabel Martins, ressalta que tudo que envolve o ambiente, não só o cavalo, como também a natureza, os peixes, as árvores, é utilizado como recurso para trabalhar as questões motoras e de inteligência dos pacientes. “Dependendo do objetivo traçado junto à família, o setor vai mediar o que vai fazer dentro dessa terapia”.

Pedro ainda acrescenta mais um fator positivo da equoterapia: o praticante, quando está montado, vê o mundo lá de cima. “Eles veem a vida de um aspecto diferente. Quando é cadeirante, você vê a vida de baixo pra cima, e quando tá montado, acontece o que chamamos de empoderamento”, explica.

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