É Papo Firme | Lista fechada é golpe

A democracia no Brasil é muito jovem. As mulheres votam há poucas décadas, há uma distribuição de riqueza desleal e covarde e um sistema político muito atrasado. Apesar de estarmos entre as dez maiores economias do mundo, somos um dos países mais corruptos do planeta.

E os problemas não param por aí. Não é difícil encontrar algum eleitor que não se recorde em quem votou na última eleição. Sem memória do voto é praticamente impossível a fiscalização do mandato, o que acaba gerando um precipício entre o povo e seus representantes eleitos legitimamente. Parece até piada pronta.

Mas o grande absurdo do momento, que considero uma tentativa de fechar o “boteco” de vez, é uma proposta dentro da Reforma Política que já tramita no Congresso Nacional: a votação em lista fechada. Você não tem a mínima ideia do que isto significa? Pois bem, vamos explicar.
Na lista fechada os eleitores não votam mais em pessoas, mas apenas nos partidos políticos. Ou seja, você vai votar no breu total. O eleitor vai votar no Huguinho e de sobra leva os malas sem alça Zezinho, Luizinho, e assim vai. A lista fechada é quase uma ditadura dos partidos, que nos moldes de hoje já não são nada democráticos.
O sistema de lista fechada funciona em democracias consolidadas, povo politizado, onde a educação é política de Estado, onde existe gestão e planejamento e o sistema político é transparente. Como implantar um sistema de votação com lista fechada no Brasil de hoje? Que credibilidade este Congresso Nacional teria para aprovar tal reforma? Votação em lista fechada é retirar do eleitor a prerrogativa de escolher quem permanecerá no Congresso Nacional
Eu acredito no parlamentarismo, apesar de saber que não há nenhuma possibilidade deste sistema ser colocado em prática no Brasil de hoje. Eu acredito em uma reforma política que também possibilite um candidato ser eleito sem ser filiado a nenhum partido. Quero deixar bem claro que, apesar de achar que existe um festival de sopa de letrinhas, não sou contra os partidos políticos. Eu acredito no voto não obrigatório para que o eleitor brasileiro tenha a real noção da importância da sua participação. Se fossemos um país sério, o financiamento público de campanha seria um grande avanço.
Não tenho nenhuma dúvida que a reforma política deve ser uma prioridade para nossa frágil democracia. No entanto, para que o Congresso Nacional possa promovê-la é preciso ter mais credibilidade e menos conflitos de interesse. Ou seja, o Brasil teria que ser descoberto de novo. Portanto, lista fechada é golpe!

*Luciano Lima é historiador, jornalista e radialista

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