‘De quem é o comando?’ Livro traz dossiê de carceragens brasileiras

“De quem é o comando – O desafio de governar uma prisão no Brasil” coloca, logo de cara, o dedo na ferida: as Organizações e Facções criminosas que comandam presídios por todo o país. A realidade dantesca deste sistema é conhecida de todos: presídios superlotados, condições de existência insalubres e desumanas e completo abandono.

A obra vai além e investiga a relação de poder que há entre os detentos e o poder do Estado, o microcosmo político que se forma na organização das celas e pavilhões e a autonomia existente neste espaço político, porém abandonado pelas políticas públicas que deveriam dar conta de administrá-lo e zelar pela segurança e integridade daqueles que ali habitam.

“Ouso dizer que nenhum outro pesquisador da academia brasileira se propôs a mergulhar tão fundo nesse ambiente que, freudianamente, relutamos em olhar”.

Allan de Abreu, prefácio

Trechos:

“Este livro procura lançar alguma luz sobre o funcionamento de certos mecanismos que possibilitam a governança desse sistema, considerando os papeis sociais, as posições em jogo e as estruturas institucionais de constrangimentos e incentivos que influenciam a ação humana”

“Acredito que o presente estudo tem algo a oferecer a estudiosos, operadores de segurança ou pessoas interessadas em compreender mais a respeito da interface entre política, burocracia, mercados, instituições e organizações criminosas”

“Prisões são instituições fechadas, habitadas por pessoas com razões de sobra para não se expor a estranhos”

DE QUEM É O COMANDO?

O desafio de governar uma prisão no Brasil

Eduardo Matos de Alencar

Páginas: 532

Preço: 69,90

Quem se importa com um criminoso na cadeia? No imaginário popular, as penitenciárias se resumem ao conhecimento de senso comum: um local isolado, vigiado e lotado de bandidos. Em sua pesquisa, o sociólogo Eduardo Matos de Alencar vai além da superfície de rebeliões, incêndios e execuções cruéis a que estamos habituados nos noticiários. A obra investiga a relação de poder que há entre os detentos e o poder do Estado, o microcosmo político que se forma na organização das celas e pavilhões e a autonomia existente neste espaço político, porém abandonado pelas políticas públicas que deveriam dar conta de administrá-lo e zelar pela segurança e integridade daqueles que ali habitam.

“De quem é o comando – O desafio de governar uma prisão no Brasil” coloca, logo de cara, o dedo na ferida: as Organizações e Facções criminosas que comandam presídios por todo o país. Logo no inicio, relembra a grande rebelião de 2017 no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, o Compaj, e a sucessão de ataques, vídeos explícitos de violência nos presídios e rebeliões que tomaram unidades Brasil afora. Os episódios foram um marco no modo como imprensa e população passaram a ver a questão penitenciária. Pressionado pela opinião pública, em resposta o Ministério da Justiça anunciou um tímido Plano Nacional de Segurança Pública. Nos jornais, discutia-se com seriedade, pela primeira vez, o problema da superlotação dos presídios. A tese de que a superpopulação carcerária favorecia grandes facções criminosas, de repente, ganhou valor.

O livro tem origem em uma extensa pesquisa sobre uma das maiores prisões brasileiras, que tinha por objetivo fundamentar a tese do autor Eduardo Matos de Alencar em sociologia. Então com quase sete mil detentos para cerca de 1.800 vagas, o Complexo do Curado, no Recife, Pernambuco, foi visitado por ele durante dois anos. Atento a todos os aspectos que podiam compor aquele ambiente, registrou este detalhado documento sobre o cotidiano desta carceragem: celas superlotadas, falta de infraestrutura, saneamento e pessoal: por vezes, apenas seis homens eram responsáveis pela custódia e manutenção de mais de 1.200 presos.

“O entendimento sobre os mecanismos e instituições responsáveis pelo estabelecimento da ordem social em um grande complexo penitenciário brasileiro (…) pode fornecer elementos valiosos para o debate sobre o tipo de prisão que desejamos ou de que precisamos”, escreve o autor. Nos dois anos em que visitou o Complexo do Curado, Matos  também fez um extenso trabalho de campo visitando outras unidades da região metropolitana de Recife, sempre facilitado por sua atuação como voluntário no Serviço Ecumênico de Militância nas Prisões (Sempri). Embora geograficamente limitado ao Pernambuco, pode-se dizer, pela extensão da pesquisa, que o autor consegue retratar um microcosmo do universo dantesco do sistema carcerário brasileiro.

Sobre o autor

Eduardo Matos de Alencar é escritor, sociólogo e analista político. Doutor em sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), trabalhou durante quase uma década em governos municipais e estaduais, com passagem por organizações internacionais, em programas como UPP Social e Pacto pela Vida. Desde 2014, abandonou o serviço público e tem se dedicado a escrever e analisar a realidade nacional a apartir do que viveu na prática cotidiana da política e de Estado brasileiros.

Edutor do site Proveitos Desonestos e do canal Paladino, escreve ocasionalmente para o Senso Incomum e para Revista Amálgama. Os ensaios que tem publicado sobre a política brasileira têm tido repercussão crscente no público brasileiro.


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