Cristovam diz que esquerda “envelheceu” em discurso; Jorge Viana fala em traição

Senador Cristovam Buarque (PPS). Foto: Jane de Araújo

Ex-ministro da Educação no primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) adotou discurso de crítica ao PT – partido ao qual já foi filiado – e ao comportamento da esquerda nos últimos anos, durante a sessão que analisa a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. O senador anunciou que votará favoràvel à continuidade do processo e consequente do afastamento de Dilma da Presidência da República.

“Não fui eu que mudei; foi a esquerda que envelheceu, não eu. A esquerda que está há 13 anos no poder, o que demonstra um desapego à democracia, manipulando, cooptando, criando narrativas em vez de análises; com a preferência pelo assistencialismo em vez de uma preferência pela transformação social; com um apego ao poder que consegue, inclusive, driblar a Constituição, fazendo com que o presidente Lula tenha quatro mandatos: dois em seu nome e dois em nome da presidente Dilma Rousseff; com o vício de corrupção, que nenhum de nós imaginava; com a incompetência gerencial, cujos resultados são nefastos e visíveis; com o aparelhamento do Estado; e com gosto por narrativas como essa de que o que estamos fazendo aqui, dentro de todo o rigor constitucional, é golpe”, disse, lembrando seu início na política, lutando contra o regime militar.

Cristovam acusou Dilma de ignorar os alertas feitos por diversos parlamentares sobre o agravamento da crise econômica e os erros da política fiscal.

Para o senador, um afastamento de Dilma servirá para que a sociedade reflita sobre seus erros. “Por que não fortalecemos a democracia, preferindo comprar parlamentares com mensalão e movimentos sociais com financiamento de projeto? Por que não realizamos as transformações sociais, estruturais, preferindo a assistência, com propósitos generosos, mas também fisiológicos, em troca de votos? Por que não pusemos o Estado a serviço do povo? Ao contrário, entregamos os órgãos públicos aos partidos, porteira fechada; os fundos de pensão aos grupos sindicais e até mesmo ao financiamento de carteiras de governos estrangeiros aliados; os bancos estatais entregamos a negociatas, visando ao financiamento de campanhas eleitorais”, afirmou.

Defesa

Já o senador Jorge Viana (PT-AC) fez uma forte defesa do governo da presidenta Dilma Rousseff e dos outros governos do PT, ressaltando a importância do ex-presidente Lula da Silva. Na sessão do Senado, Viana lembrou que Lula foi “quase uma unanimidade” no país e reconhecido internacionalmente pelo combate à pobreza.

“Foi o nosso governo, o governo do PT, do presidente Lula, que tirou o Brasil do mapa da fome, reconhecido pela ONU [Organização das Nações Unidas]. E é esse governo que é satanizado pela oposição e sofre com a traição. Tem gente que adora uma traição, mas tem horror ao traidor”, afirmou.

O senador petista também fez um apanhado dos últimos acontecimentos relevantes da vida política do país e afirmou que o Brasil passa por um momento de “anarquia”, onde o equilíbrio dos poderes está afetado.

“Alguns dizem que estamos vivendo a normalidade institucional. Eu discordo. Estamos vivendo um momento de muita gravidade, estamos vivendo um momento crítico. Um senador foi preso há pouco tempo sem autorização do Congresso. O presidente da Câmara foi afastado outro dia sem que a Câmara tivesse sido ouvida. Hoje estamos apreciando uma matéria que, se aprovada, cassa o voto de 54 milhões de brasileiros por maioria simples do plenário do Senado. E alguns se arvoram a dizer que estamos vivendo a normalidade institucional. Eu digo para quem quiser ouvir: nós estamos vivendo a anarquia”, afirmou.

Jorge Viana disse ainda que o vice-presidente Michel Temer não poderá subir a rampa do Palácio do Planalto pela frente.

“Estão fazendo uma rampa atrás do Palácio do Planalto. Espero que seja para a mobilidade, porque se for para o novo presidente é a única rampa que ele pode subir. Porque a da frente é para os eleitos”, disse.

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