Brasília (DF) – Começou na segunda-feira (1) e vai até o dia 8 de agosto a Semana Mundial do Aleitamento Materno. Neste ano, a Waba – World Alliance for Breastfeeding Action – principal entidade na promoção dessa prática, definiu a sustentabilidade como tema central da semana, com enfoque para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e, consequentemente para a redução das mortalidades infantil e materna por meio da amamentação.
Os benefícios do aleitamento materno são inúmeros, tanto para o bebê quanto para a mãe. No caso da criança, eles estão relacionados aos fatores de proteção. Hoje, os cerca de 250 componentes isolados no leite materno têm alguma ação na saúde do bebê, seja ela antibactericida, antimicrobiana, anti-inflamatória ou imunomoduladora (associada ao sistema imunológico do bebê).
De acordo com Sandi Sato, pediatra e coordenadora do Bando de Leite Humano da Maternidade Brasília, o bebê que não é amamentado corre um risco maior de desenvolver alergias. “Essa exposição precoce às proteínas do leite de vaca vai fazer com que o sistema imunológico da criança ‘amadureça’ de forma deficiente, criando hipersensibilidade a outros tipos de proteína. Esse bebê fica vulnerável a manifestações gastrointestinais como diarreia, colites, problemas respiratórios e, nos casos raros e mais graves, a doenças neurológicas”, explica.
A médica explica que o leite artificial produz uma sobrecarga do intestino dos bebês, além de mudar os PHs estomacal e intestinal dele. “O PH do intestino do bebê que recebe leite materno é bastante ácido, e isso favorece o crescimento de lactobacilos. Onde crescem lactobacilos, não crescem bactérias patógenas. O sistema imunológico é mais forte”, resume Sandi Sato.
Um estudo divulgado recentemente pela revista científica The Lancet, em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), aponta que a amamentação prolongada pode salvar a vida de, pelo menos, 800 mil bebês anualmente em todo o mundo. Essas 800 mil mortes equivalem a 13% de todas as mortes de crianças com menos de dois anos no mundo. Com a amamentação, os bebês são protegidos de infecções, diarreias e alergias e têm diminuído o risco de desenvolver doenças como hipertensão, obesidade, diabetes e colesterol.
Segundo a coordenadora do Serviço de Neonatologia da Maternidade Brasília, Lily Soriano, o aleitamento materno é a porta para ter uma criança saudável durante todo o seu período de desenvolvimento. “Na UTI, os bebês que são alimentados exclusivamente por leite materno têm uma redução em até 70% nos dias de internação em relação a outro bebê”, ressalta a neonatologista.
O melhor alimento
A Maternidade Brasília oferece um sistema de Ordenha Beira-leito, que consiste em estimular a retirada de leite materno da mãe dentro da UTI, ao lado do seu bebê. A instituição atende aos altos padrões de fluxo e a garantia de biossegurança, para não oferecer risco de contaminação durante o processo.
De acordo com Lily Soriano, este sistema possibilita que a mãe mantenha a produção de leite e que o bebê receba o alimento vindo da própria mãe. “A ordenha beira-leito aumenta o vínculo entre dois. O colo da mãe, o cheiro, o contanto também ajudam o bebê a desenvolver o sistema imunológico, e faz com que eles sintam menos dores e ganhem peso mais rápido”, explica a coordenadora.
Um destaque da Maternidade Brasília é o sistema de doação exclusiva de leite. As mães que estão com seus filhos internados na UTI neonatal fazem sua doação de leite materno e, após o processamento e controle do Banco de Leite Humano da maternidade, a quantidade doada fica reservada para o seu filho enquanto ele estiver internado. Só após a alta do bebê é que esse leite pode ser doado para outros recém-nascidos.
A pediatra Sandi Sato explica que o melhor leite é sempre o da mãe e, por isso, o sistema adotado pela Maternidade Brasília é tão importante para a recuperação do bebê em cuidados intensivos. “O organismo entende que o bebê nasceu prematuro e que precisa de nutrientes diferentes. A mãe vai produzir um leite específico, com tudo o que o bebê necessita”, destaca.
Saúde materna
O estudo publicado pela The Lancet e Opas também revelou que a amamentação traz benefícios para a saúde da lactente. Ele estima que 20 mil mortes por câncer de mama poderiam ser evitadas anualmente, já que a amamentação diminui o risco desta doença em 6%. A prática também contribui para evitar o desenvolvimento de câncer nos ovários, além de auxiliar na recuperação pós-parto, em sintomas de depressão e nas taxas de hipertensão, diabetes e colesterol, entre outros benefícios.
“Um dos objetivos do milênio é a redução da mortalidade infantil e da mãe, principalmente no componente neonatal, que ainda é um desafio por conta da saúde materna. O aleitamento traz benefícios para os dois e deve ser estimulado”, ressalta a pediatra Sandi Sato.
A coordenadora de Neonatologia do Hospital Brasília, Lily Soriano, destaca a necessidade de a mãe cuidar da sua alimentação para que se mantenha saudável durante o período de lactação. “A natureza é sábia. O organismo da mãe entende que, naquele momento, a prioridade é o bebê. Sendo assim, não existe a história do leite fraco. Ele vai ser produzido com tudo o que o bebê necessita. Nem que, para isso, o organismo precise espoliar a mãe. Por isso a importância da alimentação saudável e da ingestão de líquidos. Em uma dieta desequilibrada, pode-se mudar a quantidade de leite, mas nunca a qualidade”, explica.
Outros dados
O estudo mostra também que, na década de 1980, apenas 2% das crianças brasileiras até 6 meses de idade recebiam exclusivamente leite materno. Em 2006, o índice passou para 39%. Segundo a Opas, o Brasil é “referência mundial em aleitamento materno” e tem posição de destaque no tema em relação a nações de primeiro mundo como Estados Unidos, Reino Unido e Espanha.
A pesquisa revelou ainda que melhora na taxa de amamentação não seria benéfica somente para a saúde. Se as taxas de aleitamento materno chegassem a 90%, a economia nos gastos relacionados a saúde do bebê e da mãe chegaria a US$ 6 milhões no Brasil.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a amamentação exclusiva até os seis meses e a amamentação associada à ingestão de outros alimentos até os dois anos. Hoje, cerca de 35% das crianças do mundo estão sendo alimentadas de acordo com esta recomendação.
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