Informação & Tecnologia | Independência é desenvolvimento tecnológico

Às vésperas de proclamar a Independência, o Brasil figurava na lista dos mais ricos do mundo. Ultrapassava grandes potências atuais, tais como Austrália, e se igualava à Suécia. O destino dos brasileiros poderia ter sido bem diferente se as decisões estratégicas tivessem sido tomadas com o devido planejamento a longo prazo.

No livro Roots of Brazilian Economic Backwardness, o economista Alexandre Rands Barros aponta o atraso do país foi motivado diversos fatores ligado à descrença na sua população. Enquanto os Estados Unidos e Europa investiram na capacitação de recursos humanos – tornando, entre outras coisas, a alfabetização obrigatória, o Brasil adotou desde então a prática de importação.

Como ferramenta essencial para a produtividade e crescimento de toda nação, a Tecnologia foi um dos setores que mais recebeu imigrantes. Passados quase 200 anos, ainda não conseguimos vencer esse padrão.

As repartições públicas estão abarrotadas de equipamentos estrangeiros. Os softwares, programas e certificados também são todos do exterior. Não se fala em congressos, capacitações, atualização de mão de obra sem a presença de uma personalidade internacional.

Ao mesmo passo, os estrangeiros estão cada vez mais atentos às tecnologias lançadas no Brasil. O ex-presidente da Aliança Mundial de Tecnologia da Informação e Serviços – WITSA, Santiago Gutierrez, em visita ao país, alegou que o Brasil tem todo potencial para se tornar o próximo Vale do Silício – a exemplo do que aconteceu no México e em Fairfax, mas pode ser que não chegue lá.

O problema reside na problemática autoestima dos brasileiros. A mentalidade de colônia ainda traz enormes prejuízos para o convencimento da capacidade que desenvolvemos ao longo dos dois centenários.

Recentemente, o Governo do Distrito Federal anunciou uma leve revisão nas condições impostas às empresas para conseguir um lote na região destinada ao Programa de Promoção do Desenvolvimento Econômico Integrado e Sustentável do Distrito Federal (Pró-DF). Devido ao turbulento momento da economia, houve uma flexibilização na comprovação de geração de empregos.

A iniciativa foi recebida sob uma chuva de críticas. É difícil para aqueles que não empreendem compreender a impossibilidade de manter a produtividade apesar dos prejuízos financeiros recorrentes. Por outro lado, é muito simples explicar porque o país abre as portas para Apple, Microsoft, Uber e tantos outros.

As pessoas são habituadas com o produto internacional e tendem a imaginar que apenas esses são eficientes, que apenas esses movimentam mercado.

A falta de experiência em incentivos na produção nacional faz com que qualquer movimento que se faz para regular o mercado de TI no Brasil seja cheio de imperfeições. A Lei da Informática teve três versões. A Lei o Bem é rediscutida periodicamente e não abarca as micro e pequenas empresas.

Nos últimos vinte anos, muito foi dito sobre a Tecnologia nacional, mas quase nada foi feito. Na edição da CampusParty em Brasília, tivemos cerca de 50 mil participantes, mas pouquíssimos produtos realmente nacionais. Há alguns anos, a Fenasoft, grande evento do setor, teve mais de um milhão de participantes, cuja maioria era produção interna.

Ao contrário dos demais países que atravessaram um momento de déficit econômico, o Brasil vive um declínio cada vez mais acentuado na TI. Não é falta de capacidade ou de vontade. É uma crise, que na verdade, revela muito sobre a identidade do brasileiro e a eterna superestima da grama do vizinho.

O país só terá riquezas suficientes quando seu povo for autossuficiente. Nenhuma turbulência financeira será tão grave quanto a crise de personalidade, que nos tira toda a capacidade de emergir de maneira digna, permanente e visionária.


Ricardo de Figueiredo Caldas é presidente do Sinfor – DF. Engenheiro e Mestre em Engenharia Elétrica pela UnB. Fundador da Telemikro SA.

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