Recepcionados em Brasília por voluntários da FSF, o grupo de nove pessoas seguiu para Barreiras (BA), de ônibus, onde receberá estrutura digna para recomeçarem as suas vidas
Duas sacolas, muitos sonhos, alguns sorrisos tímidos ea esperançade uma vida mais digna em terras brasileiras. Assim desembarcaram ontem, dia 15, às 10h45, na Base Aérea de Brasília, nove venezuelanos (sendo duas crianças), vindos de Roraima, com destino a Barreiras, no interior da Bahia.
O grupo – formado por uma família e alguns amigos – foi acolhido pelo Projeto “Brasil, um coração que acolhe”, da organização humanitária Fraternidade Sem Fronteiras (FSF), que vem atuando, desde 2017, no estado de Roraima, no acolhimento às famílias refugiadas e migrantes da Venezuela, que chegam ao Brasil em busca de melhores condições de vida.
“O nosso objetivo é conseguir interiorizar essas pessoas, oferecendo toda a logística e condições mínimas socioeconômicas para que consigam se deslocar para os demais estados brasileiros”, explica Arthur Dias, coordenador do projeto.
Recepcionadas por voluntários da FSF em Brasília, os venezuelanos receberam alimentação, estrutura para tomarem banho e descansarem um pouco e, principalmente, afeto. No início da noite, embarcaram, na Rodoviária Interestadual de Brasília, com os corações ansiosos, para o destino final.
De acordo com um dos migrantes refugiados, Henry Sifontes Figuera, de 39 anos, é triste sair do país que ele tanto ama, por conta de problemas como a fome, mas ele agradece a oportunidade de tentar uma vida nova no Brasil. “Sou profissional de TI, tenho outras aptidões e quero muito ter a chance de trabalhar aqui para poder ajudar a minha família que ficou na Venezuela”, afirma o rapaz humilde, de traços envelhecidos pelo sol e pelo sofrimento.
O jovem venezuelano de 22 anos, Jesus David Araguayan, que também chegou no mesmo voo, acompanhado da esposa e de suas duas filhas, sonha igualmente em reconstruir a vida em terras brasileiras. “Não escolho trabalho. Topo qualquer coisa”, afirmou, lembrando que conheceu a FSF por meio do sogro, que já vive em Barreiras, também trazido pela Fraternidade Sem Fronteiras. “Viemos com muito pouco materialmente, mas com os corações abertos para o novo e dispostos a darmos o nosso melhor”, concluiu.
Projeto Brasil, um coração que acolhe
Em 2021, ao todo, 68 famílias que viviam em Roraima foram interiorizadas para outros estados, num total de 228 pessoas. Somas, juntas, 34 núcleos interiorizados por reunião social; 24 por reunificação familiar; oito por acolhedor voluntário; e dois pela modalidade institucional.
Por diversos motivos, entre os quais o clima mais frio e melhores oportunidades de emprego, os destinos preferidos estão nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Quinze núcleos familiares foram para o estado de Santa Catarina, 12 para São Paulo, 10 para o Rio Grande do Sul, 6 para o Paraná e 5 para Minas Gerais.
Desde 2017, início do projeto e das interiorizações, já foram quase 1.500 interiorizações realizadas.
Modalidades de Interiorização
Existem, hoje, quatro modalidades de interiorização:
- Institucional, quando os acolhidos são deslocados de um abrigo para outro em outro estado;
- Reunião Social, quando vão a convite de um amigo;
- Reunificação Familiar, quando vão para a união de familiares;
- Vaga de Emprego, quando são interiorizados com uma oportunidade de trabalho. Vale lembrar que esta última não é praticada pela FSF, haja vista não ser considerada segura e por prevenção a possíveis trabalhos análogos à escravidão. No lugar, a FSF desenvolve a interiorização via colhedor voluntário.
Acolhedor Voluntário
Para se tornar um acolhedor voluntário é simples.Basta acessar o site www.fraternidadesemfronteiras.org.br e se inscrever. É importante que o candidato saiba que será responsável pela moradia, sustento, educação e procura por um emprego para a família venezuelana no período de pelo menos três meses. “Nós acreditamos que esta modalidade é a mais segura para conseguirmos dar dignidade aos refugiados e migrantes venezuelanos até que eles consigam sua independência total”, resume Arthur Dias.
Sobre a Fraternidade Sem Fronteiras – A FSF é uma Organização humanitária e Não-Governamental, com sede em Campo Grande (MS) e atuação brasileira e internacional. A instituição possui 68 polos de trabalho, mantém centros de acolhimento, oferece acolhimento a pessoas em situação de rua, alimentação, saúde, formação profissionalizante, educação, cultivo sustentável, construção de casas e ainda, abraça projetos de crianças com microcefalia e doença rara. Todos os trabalhos são mantidos por meio de doações e principalmente pelo apadrinhamento. Com R$ 50 mensais é possível contribuir com um projeto e fazer a diferença na vida de muitas pessoas.
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