*Por Richard F. Chambers
Com a retomada gradual das atividades econômicas em diversos países do mundo, os auditores internos podem auxiliar suas organizações a enfrentar os riscos relacionados ao retorno da força de trabalho aos locais normais de negócios. Parte dessa atividade está em analisar o próprio papel da auditoria interna na avaliação dos riscos de saúde e segurança dos funcionários.
Nesse sentido, delineei quatro questões principais para os auditores internos considerarem:
· A gestão identificou e avaliou adequadamente os riscos relacionados ao retorno ao local de trabalho?
· As políticas e controles propostos para o retorno ao local de trabalho abordam os principais riscos?
· As políticas e controles foram implantados com eficácia (incluindo a comunicação)?
· O programa geral está funcionando conforme o esperado ou seria válido fazer melhorias?
Uma pesquisa do Instituto dos Auditores Internos (IIA) Global com chefes executivos de auditoria da América do Norte fornece uma resposta decididamente contraditória sobre se as organizações estão preparadas e se a auditoria interna está suficientemente envolvida. O levantamento, realizado pelo Audit Executive Center do IIA, mostra que mais da metade das organizações podem não estar preparadas para tratar alguns fatores fundamentais para retornar ao local de trabalho com segurança. Isso inclui algumas questões diretamente relacionadas à transmissão do COVID-19, como testar e desinfetar os locais de trabalho, além de avaliar a possível responsabilidade organizacional.
Além disso, acho preocupante o fato de que muitos entrevistados não puderam dar uma opinião sobre a prontidão de sua organização quanto a cerca de um terço dos fatores examinados. Isso indica que muitas funções de auditoria interna estão do lado de fora, examinando alguns dos maiores riscos que suas organizações enfrentam. Isso é inaceitavelmente alto, considerando que as avaliações de riscos deveriam ter sido atualizadas para lidar com a crise da pandemia.
Isso não quer dizer que a auditoria interna não esteja fazendo nada. Quase três quartos dos entrevistados responderam que estão identificando riscos emergentes e atualizando suas avaliações. Dois terços estão realizando atividades de consultoria em preparação para o retorno das organizações ao local de trabalho. No entanto, poucos auditores internos estão realizando revisões de determinadas áreas de risco crítico.
Uma análise mais aprofundada dos dados mostra que menos da metade dos entrevistados reportam que suas organizações estão bem ou muito bem preparadas para lidar com seis fatores de risco principais:
· Modificações do local de trabalho para o distanciamento.
· Teste de infecção atual.
· Teste de infecção anterior.
· Equipamento de proteção individual.
· Custos para adaptar o local de trabalho.
· Responsabilidade por doença ou morte.
Ainda mais preocupante é o número de entrevistados que não tinham certeza sobre o nível de prontidão de sua organização em algumas dessas áreas principais. Por exemplo, mais de um em cada cinco entrevistados não puderam opinar sobre a prontidão para testar a infecção atual, a infecção da equipe de limpeza e a responsabilidade da organização por doenças ou morte no local de trabalho. Esses itens estão diretamente relacionados à possível transmissão do COVID-19 e o terceiro ainda aborda as possíveis consequências dessa transmissão. Na verdade, apenas 8% dos entrevistados reportaram estar envolvidos em análises de saúde e segurança.
Minha intenção aqui não é atacar os profissionais nesses tempos extremamente desafiadores. Acredito que a auditoria interna teve um desempenho admirável durante a crise da pandemia e arregaçou as mangas para ajudar as organizações a superar uma variedade imensa de desafios e riscos. No entanto, já escrevi várias vezes sobre meu medo de ouvir a pergunta: “Onde estava a auditoria interna?”
Podem existir momentos nos próximos meses e anos em que as consequências da pandemia — previstas e imprevistas — levarão a falhas organizacionais e a maiores riscos de litígio. Invariavelmente, perguntarão sobre o envolvimento da auditoria interna. Não podemos responder que “não sabíamos” ou que “não estávamos envolvidos”.
Como última linha de defesa de nossas organizações, não podemos deixar de lado os esforços para gerenciar os principais riscos, especialmente durante uma crise. Não é tarde demais para alertar a gestão e os comitês de auditoria sobre o valor que a auditoria interna pode trazer para as análises de saúde e segurança antes do retorno ao local de trabalho. Peço a todos os profissionais que o façam e que estejam preparados para oferecer esse valor.
* Richard F. Chambers é presidente e CEO do Global Institute of Internal Auditors (IIA).
Sobre o IIA Brasil
O Instituto dos Auditores Internos do Brasil completou 59 anos de fundação sendo uma das cinco maiores entidades da carreira do planeta, entre os 190 países associados ao The Institute of Internal Auditors –The IIA, a mais importante associação do setor no mundo. Referência na América Latina, o IIA Brasil auxilia na formação de outros institutos como o IIA de Angola. No Brasil, a entidade coordena todo o processo de obtenção de certificações internacionais, como o CIA (Certified Internal Auditor), além de promover debates, cursos técnicos, seminários e o Conbrai – Congresso Brasileiro de Auditoria Interna.
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