Endocrinologista explica que uso indiscriminado e elevação do risco de doenças graves, além de relação com suicídio, ainda são assuntos que envolvem esses medicamentos
O “remédio para emagrecer” é um sonho, afinal todos desejam comer sem se preocupar com calorias, percentual de gordura e outros detalhes. Uma pesquisa recente realizada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) constatou que a obesidade já atinge 21,5% dos adultos nas capitais brasileiras.
Nesse cenário, se tornou muito fácil encontrar nas drogarias promessas de perda de peso com uma simples pílula. Contudo, a endocrinologista Pryscilla Moreira, membro da Singulari Medical Team ressalta que o comércio de algumas dessas medicações é um assunto muito delicado, pois podem colocar o usuário em sério risco.
Sem remédios para emagrecer milagrosos
Indo direto ao ponto, a endocrinologista é categórica ao ressaltar que não existem remédios milagrosos para emagrecimento. Por isso, é importante encarar com desconfiança qualquer informação sobre medicamentos – naturais ou não – que supostamente são capazes de promover a perda de peso rápida e fácil.
De fato, é necessário ter sempre em mente que o emagrecimento é resultado de vários fatores. “Mesmo quando um médico endocrinologista faz prescrições, é importante entender que a medicação sozinha, sem a combinação de hábitos alimentares saudáveis e a prática regular de atividades físicas, não produz resultados”, reforça a especialista.
Por que proibir o uso?
Diante da proibição desses medicamentos pelo STF, a médica explica que esse é um tema antigo, que vem sendo discutido desde 2011. “No caso da sibutramina, após revisão dos estudos ficou evidente que o risco aumentado tinha relação a indicações erradas e o uso indiscriminado por pessoas com contraindicação ou que não tinham recomendação médica para o uso”, conta.
Diante disso, foi adotado um receituário específico acompanhado de um termo assinado pelo paciente e seu médico para controlar o consumo da sibutramina. Já anfepramona, femproporex e mazindol permaneceram proibidas até 2017 dado o risco associado ao uso.
“Mesmo com a nova lei, a indústria farmacêutica não retomou a produção, que ficou concentrada nas fórmulas manipuladas. Isso gerou um debate intenso de que por serem mais baratos e de menor controle, isso aumentou o acesso às substâncias e contribuiu para o uso indiscriminado. Isso poderia ter elevado a ocorrência de efeitos adversos e gerado a discussão atual que terminou com a ação do STF”, esclarece a endocrinologista.
De fato, a possibilidade de prescrever uma única pílula capaz de sanar os problemas de seus pacientes também parece interessantes aos médicos. Segundo o Mapa da Obesidade da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), 16% dos homens e 17% das mulheres goianienses são obesos.
Sem dor, sem ganho
Contudo, a verdade é que manter uma vida saudável é a base de tudo. Como ela explica, isso é algo que os profissionais de saúde seguem recomendando ao longo dos anos com relação a diversas doenças, a obesidade é só mais uma dentre todas elas.
Por isso, além de alimentação balanceada e prática de atividade física já citadas, também é importante combinar o sono reparador, a ingestão adequada de líquidos e evitar situações de estresse – um desafio cada vez maior atualmente.
Mais do que isso, pessoas que sofrem de ansiedade ou compulsão alimentar não devem ignorar esses quadros, pois esses elementos também são primordiais. É evidente que em meio a tudo isso pode haver indicação medicamentosa. Porém, é fundamental ressaltar que o tratamento deve ser individualizado e feito sob acompanhamento médico.
Quais são os riscos da automedicação?
Talvez você pense que o pior que pode acontecer ao usar um remédio para emagrecer sem orientação de um especialista é ver seu dinheiro gasto em vão. No entanto, o risco é muito maior do que se imagina. No passado, já foram encontradas evidências de contaminação em medicamentos expostos em drogarias com a promessa de emagrecimento rápido e fácil.
“No fim, além de não trazer a perda de peso esperada, essas drogas podem causar problemas de saúde graves como o infarto, acidente vascular cerebral (AVC), alterações neurológicas ou psicológicas e ter associação com maiores índices de suicídios”, reforça a especialista.
Na maioria das vezes, é necessário ressaltar que muitos desses medicamentos não possuem a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Assim, sem a devida avaliação do Ministério da Saúde brasileiro, eles devem ser evitados a todo custo ainda que continuem à venda. Mais do que isso, mesmo que você esteja de olho em um que tem autorização em bula para a perda de peso, busque a orientação de um médico especialista.
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