Com coordenação científica do infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Ricardo Vasconcelos, o estudo ouviu 2.035 brasileiros com acesso à internet
Entender o conhecimento dos brasileiros sobre a epidemia de HIV, as formas de prevenção e os métodos de diagnóstico do vírus foi o objetivo da pesquisa realizada entre os dias 12 e 16 de março de 2020 com 2.035 brasileiros com acesso à internet, idades acima de 15 anos, de todos os segmentos socioeconômicos e regiões do país.
Em linhas gerais, os resultados mostram que os caminhos para conter a transmissão do vírus passam por mais informação e conscientização dos brasileiros, pelo combate ao preconceito, por uma maior percepção dos riscos e pelo estímulo ao diagnóstico precoce.
Dos mais de 2 mil entrevistados, apenas 48% afirmaram que usam sempre a camisinha em suas relações sexuais. Isto significa que mais da metade dos respondentes costuma fazer sexo sem proteção; 23% usam a camisinha às vezes e 29% nunca usam a proteção. O dado é ainda mais preocupante quando se constata 36% da parcela de entrevistados que não consideram a camisinha um item fundamental – se relacionam com mais de um parceiro sexual.
Com relação à epidemia de HIV no Brasil, 32% acreditam, erroneamente, que essa é uma questão resolvida ou controlada no País. Os fatos mostram exatamente o contrário. Em 2018, foram registrados 43,9 mil novos casos de HIV em todas as regiões do Brasil., segundo o Ministério da Saúde, que também tem a estimativa de que cerca de 135 mil brasileiros vivam com HIV sem saber.
O preconceito e o estigma ainda marcam profundamente o entendimento sobre o HIV e a Aids no Brasil. A pesquisa mostrou que 69% dos entrevistados pensam que, se alguém disser que tem o vírus, “ninguém vai querer ficar por perto”. Fica claro que, apesar de toda evolução nos métodos de testagem e opções de tratamento, ainda há barreiras persistentes de preconceito que precisam ser derrubadas.
Ainda que os entrevistados tenham demonstrado atitutes positivas em relação aos cuidados com a saúde em geral, o mesmo não ocorre quando o assunto é infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Enquanto 81% declararam ter feito exames médicos nos últimos 12 meses e 75% afirmam ter ido ao médico para consultas de rotina, somente 44% fizeram exames para detecção de ISTs.
A percepção inadequada do risco é um dos fatores que contribui para a falta de prevenção e de diagnóstico. Cerca de 66% dos entrevistados disseram que não acreditam ter probabilidade de se infectar no próximo ano e 28% acham que têm pouca probabilidade. Ao mesmo tempo, 91% afirmaram que “muitas pessoas se colocam em risco de contrair HIV, transam sem preservativo por impulso ou tentação do momento”. “O risco parece estar sempre associado
ao outro, não a si mesmo”, constata o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, Ricardo Vasconcelos.
A pesquisa abordou ainda a intenção dos participantes de realizarem o teste para HIV nos próximos 12 meses. O índice inicial foi de 40%. Mas, ao receberem a informação sobre a possibilidade de realizar um autoteste com privacidade e rapidez baseado na coleta de fluido oral, o porcentual subiu para 61%, um aumento de mais de 50% na propensão a realizar a testagem.
A pesquisa HIV/Aids foi desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas A Arte da Marca, sob encomenda da Genomma Lab, que comercializa o autoteste de HIV OraQuick no Brasil. A consultoria científica é do infectologista Ricardo Vasconcelos, professor da FMUSP.
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