Segundo o maestro, trata-se de um trabalho multiplicador, de inclusão social. Nesses dez anos, recorda Mirapalheta, alunos que começaram a aprender música aos 7 ou 8 anos de idade permaneceram estudando com intenção de fazer carreira artística.
Mirapalheta começou a atuar no Complexo da Maré organizando cafés culturais em conjunto com a associação de moradores, arregimentando, na comunidade, crianças interessadas. Ele trabalha para que a orquestra, um dia, chegue ao nível profissional.
Apesar de o projeto ter o patrocínio de três empresas privadas (Concessionária Lamsa, Linha Amarela e Instituto Invepar), Mirapalheta diz que existem dificuldades para continuar o trabalho. “O talento das crianças fortalece a orquestra”, diz o maestro, que vem formando duos, quartetos e quintetos de músicos infantis.
O balanço dos dez anos de existência mostra que a orquestra ganhou credibilidade na comunidade, que assiste a apresentações periódicas dos pequenos músicos no Morro do Timbau. Segundo o maestro, esses concertos didáticos servem não só para as famílias das crianças conhecerem e valorizarem o projeto mas, principalmente, para estimular a criação de um movimento cultural na comunidade, “até de pacificação”.
Socialização
As aulas ocorrem às terças e quintas-feiras, a partir das 14h30, no Instituto Staumbor, em Bonsucesso, onde os interessados podem se inscrever. A orquestra faz parte agora do projeto Eco Fonia, da ONG, que busca integrar o estudo da música e da ecologia, baseado na harmonia e na estética dos valores naturais.
“A ecologia humana já se desdobra em uma contemplação bem maior”, comenta Mirapalheta. O aprimoramento dos alunos da orquestra será facilitado com a criação da Camerata Eco Fonia, que funcionará em espaço cedido pelo Clube Ginástico Português, no centro da cidade.
“Desenvolver um trabalho com crianças, envolvendo os lados disciplinar de comportamento e educação, para depois entrar o lado artístico e ter o fino trato, é um trabalho extensivo, de continuidade, que transforma realmente e ensina a ter o gesto musical”, declara o maestro. Por meio de livros que leva às aulas, ele tenta transmitir às crianças a importância da arte e do desenvolvimento do raciocínio, baseado em conhecimentos diversos.
Representatividade
Segundo Mirapalheta, seu principal objetivo é formar uma orquestra representativa do Complexo da Maré, com um espaço fixo para concertos, e multiplicar essa ideia. O maestro foi convidado a implantar o projeto nas comunidades da Providência, de Cabritos, do Santíssimo e em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. “Têm alunos que foram para outros lugares, abriram pequenos grupos. É um trabalho multiplicador que tem essa preocupação de, a partir dessa vibração, dar um diferencial para os alunos entenderem a vida”, ressalta.
O projeto recebeu o Prêmio Territórios da Cultura da Secretaria de Cultura do Município do Rio de Janeiro pelos concertos didáticos promovidos na comunidade. A orquestra também promove sessões culturais na creche e na escola de ensino fundamental da Maré.
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