Por Oliver Schulze
A cada ano 50 mil pessoas morrem em acidentes de trânsito no Brasil. As causas são as mais variadas e quase sempre destacam falha humana. Até aí nenhuma novidade. A experiência mostra que é preciso fazer algo mais do que campanhas educativas para a redução desse número sinistro. Mas fazer exatamente o que? A questão só pode ser respondida com a investigação de acidentes onde eles acontecem. Essa prática, ausente no Brasil, é desenvolvida em países como Estados Unidos, Alemanha, Suécia, China, Índia, República Checa entre muitos outros.
A razão que motivou esses países a investigarem é simples: a análise detalhada no local das ocorrências de trânsito é um elemento imprescindível para melhorar a segurança veicular e rodoviária porque só assim a complexidade do acidente é exaustivamente apresentada. Nem mesmo os métodos de simulação modernos podem sozinhos cobrir a diversidade de situações.
Pela importância, o assunto será tema do Painel de Segurança Veicular do 25º Congresso SAE BRASIL, de 25 a 27 de outubro, em São Paulo, onde, pela primeira vez, será apresentado o Projeto IAAT (Investigação Avançada de Acidentes do Trânsito), criado pela Comissão Técnica de Segurança Veicular (CTSV) da SAE BRASIL. Único na América do Sul, o IAAT está em prática piloto em Campinas (SP) desde março.
O IAAT se baseia no exemplo de iniciativas bem-sucedidas no mundo, como o Germany in Depht Accident Study (GIDAS), desenvolvido em Hannover e Dresden, na Alemanha, onde equipe formada por médicos, engenheiros e psicólogos acompanha ocorrência de acidentes; e o Iniciative for the Global Harmonization of Accident Data (IGLAD), presente em mais de 15 países, que trabalha com coleta padronizada de dados de acidentes para comparação dos resultados entre os países participantes.
O Projeto IAAT foi implantado em Campinas em cooperação com a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (EMDEC), a Secretaria Municipal de Trânsito da cidade, e participação da Polícia Civil e Científica e o Corpo de Bombeiros.
Daí para frente foi planejamento e mãos à obra. Dados relativos a 45 acidentes ocorridos na região urbana central de Campinas em um raio de cinco quilômetros foram coletados desde então. Os próximos passos serão ampliar o raio de ação, melhorar a amostragem de coleta incluindo o período noturno e também os finais de semana, e a incorporação de nova equipe para pesquisa também nas estradas.
É um trabalho muito desafiador e gratificante. O projeto trouxe para nosso País o que há de mais moderno no mundo em termos de tecnologia para pesquisa de acidentes. Na fase atual o IAAT conta com equipes de campo treinadas por especialistas da Bosch Alemanha e da IDIADA Espanha, com experiência em diversos países da Europa e Ásia.
A força-tarefa do IAAT conquistou ainda adesões de empresas como Bosch, IDIADA, e Takata, para a aquisição de equipamentos de análise de acidentes, estudos e reconstituição de ocorrências, fundamentais à execução. A Universidade Mackenzie de Campinas também participa, reforçando a equipe de campo com estudantes de engenharia de sua Empresa Júnior.
Estamos empenhados no objetivo de redução de mortes em acidentes de trânsito no Brasil e apostamos no Projeto IAAT como a ferramenta que nos ajudará a conquistar esse alvo. A partir de seu desenvolvimento teremos as informações com as quais seremos capazes de avançar na segurança veicular e da infraestrutura viária.
Mais que isso, trabalhamos para que esse projeto seja a base de ideias e conceitos em pesquisa e desenvolvimento de engenharia para as tecnologias do futuro.
* Oliver Schulze é engenheiro e dirige o Comitê de Segurança Veicular do Congresso SAE BRASIL 2016
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