Por Ricardo Callado
O governante que tem maioria de dois terços não tem medo de oposição atrapalhar. Na máxima da política, oposição grita e maioria vota. Quem tem maioria simples, vive no aperto. Torce para que nenhum deputado vire de lado em uma votação importante. E viver de torcida é contabilizar incertezas.
Desde o início do governo, Rollemberg tem dificuldade para identificar sua base aliada. Em muitas votações, contou com a oposição para aprovar projetos de interesse do Buriti.
Em outras, sofreu derrotas que atrapalharam seus planos de sanar o buraco financeiro dos cofres do GDF.
Rollemberg vive na gangorra entre uma base frágil e uma oposição indecisa. Quando acorda invocado, mostra a força de um chefe de Executivo, demitindo os cargos indicados por algum deputado.
Num primeiro momento, a medida surte efeito. Estanca a sangria e coloca medo na base aliada. Ao mesmo tempo, perde um parlamentar. E estreme a relação entre Executivo e Legislativo.
Hoje, Rollemberg tem duas oposições, uma de esquerda e outra de direita. A primeira é formada por antigos companheiros da campanha de 2010, quando se elegeu senador juntamente com Cristovam Buarque. Na cabeça de chapa, o então candidato do PT ao governo, Agnelo Queiroz.
Em 2014, Rollemberg e petistas estiveram em palanques opostos. Hoje, a relação vive uma crise de identidade. O governador conta com o PT mais do que alguns governistas de sua base. É uma questão de alinhamento.
O problema é de origem. A quebra de confiança é mútua. Nem uma das partes acredita na outra. A base do governo é infiel. E não esconde isso de ninguém. Raras exceções.
E o Buriti teve muita dificuldade no primeiro ano em lidar com o Legislativo. Mesmo assim conseguiu aprovar ações importantes.
É possível notar uma mudança. Um sopro de esperança na relação. Rollemberg vem buscando outra forma de governar. Mais prática e menos ideológica. Busca recuperar a confiança perdida. E procura formar uma base em que possa confiar.
A saída é sempre pelo diálogo. É assim que o Buriti busca fazer o vento virar. A mesma política que levou o governador ao Palácio do Buriti é a que vai permitir montar sua tão sonhada base.
Os holofotes que estavam direcionados a crise nacional tende mudar o rumo e o prumo. O GDF está, aos poucos, voltando a ter os olhares da população. Isso é bom ou ruim? Depende dos resultados que o governo alcançar.
Se as mudanças que o governo está promovendo levarem a uma avaliação positiva, os holofotes podem potencializar a conquista. O mesmo vale para o contrário.
Enquanto isso, nem oposição grita, tampouco a maioria vota favorável. Até porque essa maioria não está consolidada. E a oposição pode ser classificada como adversários alinhados e governistas independentes. Com exceções, é claro.
Como resolver isso? Com coragem, humildade e autorreflexão.
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