João Azevêdo assiste a um racha inevitável na base governista e não tem muito o que fazer

Governador enfrenta desafio de manter coesão entre Cícero Lucena, Lucas Ribeiro, Adriano Galdino e Hugo Motta em um cenário de ambições cruzadas

O governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), que se prepara para disputar o Senado em 2026, enfrenta uma tarefa hercúlea: manter a unidade de sua base governista em meio a interesses conflitantes e pré-candidaturas que sinalizam um racha iminente. Com nomes como Cícero Lucena (PP), Lucas Ribeiro (PP), Adriano Galdino (Republicanos) e Hugo Motta (Republicanos) disputando espaço na chapa majoritária, a coesão do grupo parece mais um desejo do que uma realidade.

Apesar dos esforços de Azevêdo para projetar harmonia, como nas reuniões na Granja Santana e no “Café de Brasília”, a fragmentação é vista por analistas como inevitável, com potencial para custar caro nas urnas frente a uma oposição fortalecida por Efraim Filho (União Brasil), Romero Rodrigues (Podemos), Pedro Cunha Lima (PSD), e Cabo Gilberto Silva (PL). Será Azevêdo capaz de evitar a derrota anunciada?

Uma colcha de retalhos

A base de Azevêdo, composta por PSB, PP, Republicanos, PT, PCdoB, e outros, foi essencial para sua reeleição em 2022 com 52,33% dos votos. No entanto, a sucessão de 2026 expõe fissuras. Cícero Lucena, prefeito de João Pessoa, lidera as pesquisas com 21,1% (ANOVA/PB Agora), mas sua recente abertura para disputar o governo, após endossar Lucas Ribeiro, criou desconfianças.

Lucas, vice-governador e herdeiro político da senadora Daniella Ribeiro, tem 5% e aposta na continuidade do projeto de Azevêdo, mas sua juventude (31 anos) é questionada frente à experiência de Cícero.

Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), reivindica a cabeça de chapa, alegando que o Republicanos foi “o fiel da balança” em 2022 e hoje é ainda mais forte.

Hugo Motta, presidente da Câmara, com 6,5%, ganha apoio de Galdino e de movimentos como os adesivos pró-Motta, mas seu alinhamento com Lula (com desaprovação crescendo a cada pesquisa) e Alexandre de Moraes prejudica sua imagem entre conservadores.

Azevêdo tenta apaziguar os ânimos. Em entrevista recente, ironizou a torcida da oposição por um racha: “Que fique esperando”. Ele insiste que as definições virão em 2026, priorizando a gestão, como o programa “Paraíba 2025-2026”. No entanto, a pressão por definições é crescente.

O deputado Aguinaldo Ribeiro (PP) cobrou clareza sobre a candidatura de Azevêdo ao Senado, alertando que a demora pode corroer espaços eleitorais. O governador, ciente de que renunciar até abril de 2026 para concorrer iniciaria uma contagem regressiva de seu poder, mantém a ambiguidade: “Meu nome está posto, mas depende da conjuntura”.

O racha é alimentado por ambições individuais. Galdino destacou a força do Republicanos, que quer “o tamanho que somos” na chapa, e não descarta duas vagas majoritárias (governo e Senado). Cícero, com agendas intensas no interior, sinaliza independência, enquanto Lucas Ribeiro defende que “o projeto é maior que pretensões individuais”. Hugo Motta, apesar do apoio de Galdino, enfrenta críticas de Silas Malafaia por não pautar a anistia do 8 de janeiro, o que o enfraquece entre bolsonaristas. A reunião de 8 de fevereiro na Granja Santana, com Cícero, Lucas, Motta, Galdino, e Daniella Ribeiro, foi um esforço de alinhamento, mas a ausência de consenso sobre a cabeça de chapa persiste.

A oposição, por sua vez, se organiza. Romero Rodrigues lidera com 17,5%, empatado tecnicamente com Cícero (16,3%), segundo a Data Ranking (02/12/2024), seguido por Pedro Cunha Lima (14,1%), Efraim Filho (8,4%), e Cabo Gilberto Silva, que capitaliza o bolsonarismo. Efraim apostou no racha governista para fortalecer a oposição, mas Azevêdo minimizou: “Ele que espere”. A fragmentação da base, porém, pode abrir brechas, especialmente com 52,3% de indecisos na pesquisa ANOVA, indicando um eleitorado volátil.

Azevêdo não está derrotado, mas o cenário é desafiador. Sua liderança nas pesquisas para o Senado (39,5%, Data Ranking) dá peso à sua articulação, e o apoio de Roberto Paulino (MDB) reforça a coesão. O programa “Paraíba 2025-2026” e obras como o Ramal do Apodi, entregue com Lula, projetam continuidade. Contudo, a base precisa de um candidato único para evitar a dispersão de votos. A rejeição a Lula na Paraíba, menor que a média nacional, ainda é um risco, e a associação de Motta com o governo federal pode alienar eleitores. A nomeação de Alanna Galdino ao TCE-PB, apesar de polêmica, fortaleceu Adriano, mas também alimentou críticas de nepotismo, que a oposição pode explorar.

O racha não é inevitável, mas exige concessões. Azevêdo pode optar por apoiar Lucas, garantindo a sucessão ao PP, ou negociar com o Republicanos, cedendo espaço a Galdino ou Motta. Cícero, se renunciar à prefeitura, seria um trunfo, mas sua hesitação sugere cautela. A oposição, embora forte, também enfrenta divisões, o que dá ao governador uma janela para reagrupar. Como disse Lucas Ribeiro, “o trabalho responde a tudo” — mas, sem unidade, o trabalho pode não ser suficiente.

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