Projeto do Ministério da Saúde ajudou a evitar pelo menos 120 mortes graças a mudanças nas práticas de trabalho
O Hospital de Base (HB) reduziu em mais da metade as infecções registradas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Trauma e economizou R$ 6.058.241. Esses são resultados atualizados do projeto Melhorando a Segurança do Paciente em Larga Escala no Brasil, do Ministério da Saúde, desenvolvido no HB durante dois meses e meio, entre janeiro de 2018 e julho de 2020.
Com a iniciativa, a UTI Trauma alcançou resultados expressivos na redução de três principais tipos de infecções: de Trato Urinário (ITU), com diminuição de 100%; Primária de Corrente Sanguínea Associada ao Uso de Cateter Venoso Central (IPCSL), com queda de 94%; e Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV), com redução de 79,1%.
Por meio dos resultados, os profissionais de saúde conseguiram evitar cerca de 120 mortes na unidade, de acordo com projeções da própria equipe. “Inicialmente o nosso grande desafio foi agregar as pessoas para que elas acreditassem no projeto. Porque as ações eram feitas antes, porém de forma aleatória, sem um conjunto de ações específicas”, explica a chefe do Núcleo de Enfermagem da UTI Trauma, Ana Cristina Fontenelle, uma das responsáveis pelo trabalho.
Meta atingida antes do previsto
O objetivo da iniciativa era diminuir as três infecções primárias na UTI Trauma. No primeiro ano, o hospital deveria apresentar uma redução de 30% nas infecções. Ao fim do projeto, a queda deveria ser de 50%. O resultado, porém, foi alcançado antes do previsto. “A gente conseguiu superar a meta já no primeiro período”, declara Ana Cristina. Para que desse certo, algumas mudanças nas práticas de trabalho foram adotadas.
“Elevar a cabeceira a 30º, fazer a higiene oral três vezes por dia, não deixar nenhum fluido na traqueia do respirador e reduzir a sedação logo que possível para tentar desentubar o paciente”, exemplifica a chefe de enfermagem.
Participação intensa da família
Outro ponto importante do projeto foi a visita estendida aos familiares dos pacientes. Eles foram ferramentas importantes no controle das medidas adotadas. “A ideia era trazer o familiar para perto, a fim de que ele fosse membro da equipe também. Ele participava, dava opinião e era ouvido”, detalha a fisioterapeuta, Ludmilla Figueiredo. O treinamento dos acompanhantes era feito pela equipe de psicologia da unidade e colocado em prática com a ajuda dos técnicos de enfermagem.
Apresentação mensal dos resultados
O andamento e as melhorias do projeto eram apresentados para toda a equipe da UTI Trauma mensalmente. “A gente comemorava o que dava certo e listava os pontos de melhoria”, lembra Ludmilla. As reuniões eram acompanhadas pela superintendência do Hospital de Base.
O último encontro da equipe ocorreu na quarta-feira (23). Mais do que implementar novos processos e metodologias, a ação promoveu mudanças profundas no dia a dia dos profissionais de saúde que fizeram parte da iniciativa.
“O ganho e o crescimento em gestão de processos na assistência ao paciente foram incríveis. Independentemente de o projeto estar terminando, são práticas que a gente incorporou”, opina a médica Jordana Rey Laureto, chefe da UTI Trauma.
Joiceane Frota, enfermeira na unidade, reitera o sucesso da experiência. “A gente via que as condutas eram para atender a um propósito. Hoje, a gente consegue avaliar que a rotina vai ser mantida. Vamos passando para os novos colegas que chegarem”, pretende.
Como funciona o projeto
A equipe do Hospital de Base recebeu, periodicamente, o acompanhamento do Hospital Moinho dos Ventos, de Porto Alegre, para implementar processos e metodologias de segurança na UTI Trauma. O acompanhamento antes da covid-19 ocorria periodicamente em sessões presenciais, mas, com a pandemia, passou a ser feito a distância.
Mais sobre o projeto nacional
O Ministério da Saúde lançou em 2017 o programa Melhorando a Segurança do Paciente em Larga Escala no Brasil. A iniciativa visava orientar cerca de 120 hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto às melhores práticas para o cuidado da segurança do paciente. O programa era executado por cinco hospitais de referência integrantes do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS): Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Hospital do Coração, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Moinhos de Vento e Hospital Sírio-Libanês.
As unidades particulares foram responsáveis por capacitar equipes de outros hospitais brasileiros, entre eles o Hospital de Base. Foi oferecido suporte para o desenvolvimento técnico das equipes, com a sugestão de ferramentas de mensuração e de monitoramento de indicadores. Também no DF, participaram do programa os hospitais Materno-Infantil de Brasília (Hmib), Regional da Asa Norte (Hran), Regional do Gama (HRG) e Universitário de Brasília (HUB).
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