Escolha de novo conselheiro do TCE-PB expõe domínio político familiar e falta de representatividade feminina

Após desistência de Tião Gomes, articulação de Adriano Galdino prioriza nomes da própria família enquanto candidatas técnicas são ignoradas

A disputa pela vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB) revelou mais uma vez a influência das dinastias políticas no controle dos cargos de alto escalão no estado. Após a desistência forçada do deputado estadual Tião Gomes, que teve sua candidatura questionada por não preencher os requisitos necessários para o cargo, a escolha do substituto ficou nas mãos do presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), Adriano Galdino.

Tião, ao abrir mão da disputa, declarou que deixaria a indicação nas mãos de Adriano Galdino, seu aliado. Para surpresa de ninguém, o presidente da ALPB foi a Brasília para discutir o tema com Hugo Motta, presidente do Republicanos, partido ao qual é filiado, e retornou com dois nomes que carregam o mesmo sobrenome: seu irmão, o deputado federal Murilo Galdino, e sua filha, Alane Galdino.

Embora não haja ilegalidade na candidatura de familiares, a movimentação soa mal para a sociedade, reforçando a percepção de que os cargos mais altos do estado orbitam sempre entre os mesmos grupos políticos. Essa espécie de nepotismo de poder impede a renovação e perpetua um ciclo onde as decisões estratégicas seguem concentradas nas mesmas famílias que dominam a política paraibana há décadas.

Entre os critérios necessários para concorrer ao cargo, o postulante precisa do apoio de pelo menos 12 deputados estaduais. No entanto, a contadora Clair Leitão, que atende a todos os requisitos exigidos pela Constituição para ocupar o cargo — incluindo idoneidade moral, experiência em gestão pública e pelo menos 10 anos de atuação em contas públicas —, não conseguiu sequer uma assinatura de apoio dos parlamentares.

A falta de apoio a Clair Leitão chama ainda mais atenção pelo fato de nenhuma das seis deputadas estaduais ter endossado sua candidatura, o que perpetua um problema estrutural: o TCE-PB nunca teve uma mulher entre seus conselheiros. Enquanto se discute a importância da representatividade feminina nos espaços de decisão, na prática, as oportunidades continuam sendo negadas a mulheres qualificadas, enquanto os cargos são disputados entre herdeiros políticos.

A escolha do novo conselheiro do TCE-PB evidencia não apenas a manutenção dos privilégios políticos, mas também o descaso com a meritocracia e com a presença feminina em um dos órgãos mais importantes para a fiscalização das contas públicas no estado. Para além das articulações de bastidores, a decisão que será tomada nos próximos dias definirá não apenas um nome, mas também a direção que a política paraibana seguirá: continuará refém do poder hereditário ou abrirá espaço para novas vozes?

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