Em entrevista à Agência Brasília, presidente da estatal conta como a instituição se moderniza para ampliar sua atuação no Entorno e no resto do país
Por Renata Moura
O projeto é ousado: fazer o Banco de Brasília (BRB) atuante e presente para além das fronteiras do Distrito Federal. A nova gestão da instituição financeira está focada em desenvolver estratégias de mercado para se tornar um banco de fomento do “desenvolvimento econômico, social e humano da região”.
Para isto, estão nos planos: abrir novas agências, ampliar linhas de crédito para estimular o empreendedorismo, estabelecer parcerias com o governo para execução de programas e projetos de infraestrutura e desenvolvimento social e até mesmo, contratar de cerca de mil empregados concursados nos próximos quatro anos.
À frente dessa nova fase do banco regional está Paulo Henrique Costa, que tem mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro. Em entrevista à Agência Brasília, o novo presidente do BRB faz um balanço da atuação nos últimos seis meses. Conta sobre as renegociações de dívidas com servidores e o trabalho de conscientização financeira; e, comenta as ações internas de combate à corrupção para “evitar episódios como os do passado”.
Costa ainda destaca as ações para levar os serviços do BRB para o Entorno e, a necessidade de o banco público ter uma atuação mais voltada para área social. O gestor explica também como vai funcionar a bilhetagem automática dos serviços de transporte público – que, daqui 90 dias, passará a ser completamente administrada pelo banco.
O Governador Ibaneis descartou a possibilidade de privatização do BRB e afirmou que espera que o banco seja um ajudador no desenvolvimento social do DF. Como atender a essa expectativa?
O governador estabeleceu com muita clareza, desde o início, a necessidade de construirmos um BRB diferente, mais próximo da população, mais protagonista do desenvolvimento econômico, social e humano do DF. Na nossa visão, esse é o papel de um banco público. Um banco que deixa de oferecer simplesmente as soluções que os demais bancos comerciais oferecem para ter um cuidado, uma atenção maior, com a população. O que queremos dizer com isso? Que estamos construindo um novo BRB. Mais atento e mais próximo de todos os setores. Os servidores, claro, continuam sendo nosso principal cliente. Mas temos a necessidade de avançar e a buscar diversificar nossa carteira. Por isto, hoje, o BRB se posiciona junto do setor produtivo, buscando atuar na cadeia da construção civil, do agronegócio, do comércio, na cadeia produtiva do turismo. Também passamos a ter um papel mais atuante no financiamento e desenvolvimento da infraestrutura do DF e, consequentemente, na missão de gerar emprego e renda para a região. Essa é a cara do novo BRB. Um banco que sai de dentro da sua sede e vai para as ruas construir soluções para a população. Outros exemplos do que estamos fazendo: financiamento de lote urbano, um programa forte de consultoria financeira, que permitiu que a gente mudasse a vida do servidor…Temos hoje a menor taxa do mercado para financiamento imobiliário. O BRB pretende estar no dia a dia da sociedade, fornecendo soluções financeira para o cliente – seja ele pessoa física ou jurídica.
Como a nova gestão do BRB quer se apresentar a população?
A população de Brasília pode se acostumar com esse novo BRB, mais presente no dia a dia do cidadão. Seja na relação usual com cliente de uma maneira mais ágil, moderna, leve, simplificada e competitiva. Com o banco atuando como parceiro do governo em vários programas. O cidadão vai perceber o impacto disto. Queremos, inclusive, atuar mais próximo da sociedade nas áreas de cultura, esporte, lazer e educação seja por meio do Instituto BRB ou pelas próprias iniciativas do banco.
Como tem funcionado essa consultoria financeira para ajudar servidores endividados?
Logo no início do ano, em fevereiro, lançamos esse programa de consultoria financeira. A gente entende que a solução para o servidor não é simplesmente renegociar a dívida. Mas, sim, entender o seu contexto financeiro e toda sua lógica de receita e gastos para darmos as orientações com relação a esse relacionamento com o dinheiro. Criamos uma agência específica para atender esses clientes e revimos os prazos e as taxas dos nossos produtos, de maneira a permitir que o servidor conseguisse alongar os prazos das operações. Recentemente, também lançamos um produto novo que se chama BRB Fácil. Que permite que clientes com mais de um ano de atraso no pagamento de suas dívidas possam quitar os valores com até 90% de desconto. E os resultados de tudo isto, a gente já está vendo: em seis meses, passamos de mais de 5 mil contratos, envolvendo mais de R$ 400 milhões renegociados. Nos últimos quatro anos, o programa se repetiu: são os 12 meses com mais sucesso, com apenas 500 renegociações. Também conseguimos trazer o salário de mais de 100 servidores de volta para o banco. Servidores que já tinha migrado por portabilidade para outros bancos. Sei que não é um número tão grande, mas a visão que trouxemos é que o servidor precisa ser tratado num ambiente concorrencial. Não é porque o BRB tem a exclusividade da folha que não precisa dar a atenção adequada. Por isto, começamos a melhorar nossas soluções de tecnologia, a oferta de produtos, a disponibilidade de nossos sistemas de 80% para 95%, se comparado ao ano passado, ampliamos com a oferta de financiamento de lotes, laçamos dois cartões de crédito novos: Visa Infinity e o cartão Sou Mais Mulher, que começou a ser comercializado há duas semanas.
Nosso objetivo é: queremos promover a segurança e independência financeira de mulheres para diminuir, e quem sabe evitar, casos de violência
O que é o cartão Sou Mais Mulher?
Esse cartão é uma parceria nossa com a Secretaria de Estado da Mulher para realizar um conjunto de ações que vão desde treinamento e consultoria financeira/empresarial a capacitação de lideranças. Isto para estimular o empreendedorismo feminino. Também teremos a presença do banco no Espaço Sou Mais Mulher, em Taguatinga. A proposta é que uma parte de todos os valores arrecadados com nesse cartão de crédito seja revertida para a Secretaria da Mulher, para ser usada em políticas públicas, visando o empoderamento e autonomia feminina. Nosso objetivo é comum: queremos promover a segurança e independência financeira de mulheres para diminuir, e quem sabe evitar, casos de violência. Estudos mostram que a principal causa da violência contra mulheres é a falta da autonomia financeira. Muitas mulheres acabam se sujeitando a algumas situações de agressão por conta da dependência financeira. Queremos oferecer-lhes uma alternativa.
Há algumas semanas, foi publicado no Diário Oficial um contrato de empréstimo consignado com a prefeitura de Unaí (MG). O BRB pretende ser também um banco de fomento para o Entorno?
Nosso projeto para o BRB é de regionalização. O governador Ibaneis foi muito claro em relação ao objetivo e a diretrizes. O desejo é de crescimento e expansão da atuação. Primeiro no Entorno, depois no Centro-Oeste e, logo, logo no Brasil, quando falamos em estratégia de banco digital. Em relação ao Entorno, nossa estratégia passa: primeiro, pelo aumento da nossa presença com abertura de novos BRB Conveniência e de agências, onde for possível; segundo, com o lançamento de programas e produtos de créditos que possam ser consumidos e utilizados pelos moradores do Entorno, que, muitas vezes, não têm acesso bancário como deveram ter. Nas duas próximas semanas, vamos lançar um novo programa de microcrédito, que vai nesse sentido e poderá se aproximar da população da região. E a ideia é oferecer o microcrédito junto com um programa de consultoria e acompanhamento na realização do empreendimento. Se eu pudesse resumir o que queremos para o Entorno, usaria dois termos: presença e novas soluções financeiras.
Nesse projeto de ampliação física, com a criação de novas agências, há possibilidade de novos concursos públicos?
Recentemente lançamos três concursos para 113 vagas e estabelecemos um cadastro de reservas para 1.000 pessoas. Ou seja, não devemos anunciar novos concursos tão cedo. O que vamos fazer é chamar rapidamente os primeiros 113 e estabelecer um cronograma com a intenção de chamar todos os demais do cadastro de reserva, ao longo dos desses quatro anos.
1.000 pessoasé a quantidade de concursados no cadastro reserva do BRB
Um importante papel do BRB nesta gestão foi assumir o financiamento dos lotes da Terracap, que estão em processo de regularização. Como isto está sendo feito?
Veja que só realizamos operações seguras. Porque financiamos lotes regularizados, em processo de regularização junto à Terracap e à Secretaria de Patrimônio da União. Apenas quando o processo está certo, a gente vai lá paga e financia. Esse lote acaba sendo uma bela forma de garantia de recuperação dos recursos. Isto porque ele geralmente tem uma construção. Há duas questões, que torna esse lote bem garantido. A primeira delas é que a forma como é definido o preço do lote. Você pega o preço do mercado e dele deduz todas as melhorias de infraestrutura, que foram feitas naquele condomínio. A gente chega numa região, como o Grande Colorado, com lotes que têm um valor de mercado negociado em R$ 400 mil, mas é negociado pela Terracap por R$ 100 mil. Outra é o valor da construção, que está dentro do lote. Ou seja, no final, você está financiando 100% do lote e, tem uma garantia bem superior ao valor que está no contrato de financiamento. Para nós, essa é mais uma oportunidade de mostrar esse novo BRB. Porque apresentamos uma solução para Brasília, em relação à situação fundiária, nesse momento tão importante para a população de realização do sonho da casa própria.
Quando o BRB assumirá de vez a questão da bilhetagem no transporte público?
Decreto recentemente publicado prevê o cronograma de transferência e transição do antigo DFtrans, atual Semob, para o Banco de Brasília. Em 90 dias, a gente vira a chave.
Quais as melhorias que o usuário do sistema de transporte pode esperar?
Sentirão um sistema mais eficiente e dinâmico. Estamos ampliando o atendimento com mais 40 pontos de venda. Hoje, temos apenas 13 locais de comercialização do cartão – e passaremos a ter 53. Esse será o primeiro impacto: mais alternativas para comprar os bilhetes. O segundo impacto relevante é que, em 120 dias, lançaremos um aplicativo de celular em que o cidadão poderá adquirir o cartão online. Nele, o usuário vai poder acompanhar os créditos, o saldo e o extrato das movimentações e essa medida, certamente, vai ter um impacto muito importante sobre as filas. Muitos perguntam: e quem não tem acesso à internet? Por isso vamos apresentar duas soluções. A primeira é a Internet Social que está disponível em várias feiras e locais públicos do Distrito Federal, que já é um projeto realidade da Secretaria de Inovação. A segunda alternativa é uma negociação que faremos com as operadoras de telefonia para que esse tráfico no acesso ao aplicativo não seja cobrado do usuário. O BRB vai assumir essa conta. A partir daí, vamos avaliar, se houver necessidade, em ampliar a rede atendimento para as 127 agências e para os mais de cem correspondentes bancários (BRB Conveniência).
O aplicativo servirá apenas para a comercialização dos bilhetes?
No início do ano que vem, logo no primeiro trimestre, a gente quer que esse aplicativo possa também receber documentos. Para que não haja mais necessidade do cadastramento físico dos usuários nas lojas. Outra coisa: vamos garantir a estabilidade do sistema. Hoje, por exemplo, vemos muitas filas no metrô. Estamos atuando de maneira coordenada para que as catracas do metrô também possam ser substituídas e, a gente, dessa maneira conseguiria garantir uma maior estabilidade do sistema.
O GDF já teve grandes prejuízos com as fraudes identificadas no sistema de bilhetagem. Como vocês estão trabalhando para evitar que isto se repita?
Essa é uma grande preocupação e estamos trabalhando para reduzir e combater as fraudes. As informações são de R$ 100 milhões em fraudes por ano. Nossa estimativa, em 5 anos, é de gerar uma economia de cerca de R$ 500 milhões para o GDF. Chegamos a esses números atuando em conjunto com a Polícia Civil. Entendemos as principais causas e a partir dessas informações, estamos ampliando o controle de todo processo: das vendas e cadastramento dos usuários ao uso dos créditos.
Estamos trabalhando para reduzir e combater as fraudes. Nossa estimativa, em 5 anos, é de gerar uma economia de cerca de R$ 500 milhões
O BRB sofreu muito nos últimos anos com escândalos de corrupção, o que impactou diretamente nos resultados do banco. Como ele está enfrentando o reflexo de tudo isso?
Não posso falar muito sobre os resultados do banco, porque ele é um banco de Estado em Bolsa de Valores. Mas podemos dizer que o BRB cresceu muito na produção dos seus principais negócios. A medida da nossa importância e da presença do BRB junto à sociedade é a quantidade e volume das operações que passamos a fazer nos últimos seis meses. Comparando o mesmo período do ano passado, estamos produzindo três vezes mais créditos consignados e vendemos quatro vezes mais cartões. Os créditos rurais, em junho, equivalem a todo o primeiro semestre do ano passado. Também em junho passado, contratamos operações de crédito imobiliário, que correspondem a soma de todos os meses do ano passado. Estabelecemos parcerias importantes com a Fecomércio, o Secovi, a Ademi e o Sinduscom e estamos negociando uma parceria com a Fibra. De fato, estamos se aproximando do setor produtivo para exercer esse papel de banco de desenvolvimento que se espera do BRB.
Como essa gestão está se preparando para combater a corrupção?
Estamos adotando várias ações de controle para evitarmos os erros do passado. O mais importante foi o fortalecimento da governança do banco. Isso já está acontecendo e, o fato mais marcante foi o lançamento do nosso programa de integridade. Um conjunto de 63 ações que vão fortalecer a conduta de todos aqui. Deixamos de maneira muito clara o que se espera dos empregados e gestores, principalmente no que diz respeito à relação com fornecedores. Amarramos um ambiente de controle muito firme e esperamos que o banco fique em paz, fique protegido de episódios como esses do passado.
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