Aumento da taxa de juros e a preferência por Fundos de Recebíveis

POR GUILHERME DAMBROS

O Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central decidiu aumentar a taxa básica de juros, a Selic, em 1,50%, no último dia 8. Com isso, chegamos ao patamar de 9,25% ao ano. Esse cenário de alta de juros, aliado à atividade produtiva enfraquecida e ao possível impacto da nova variante do novo Coronavírus, trazem uma preocupação maior aos investidores de fundos imobiliários. Reflexo disso foi o desempenho do índice de fundos imobiliários(IFIX), que fechou o mês de novembro com uma queda de 3,64%, acumulando o quarto mês consecutivo de baixa.

Nas duas últimas reuniões do Copom tivemos ajustes mais acentuados na taxa de juros, o que justifica uma pressão maior em cima dos fundos imobiliários. Quando a Selic aumenta, o primeiro tipo de investimento a se beneficiar é a Renda Fixa. Isso porque temos um menor risco e uma maior atratividade para alocação dos recursos. Quando estávamos com uma Selic em mínima histórica, a 2%, o segmento de FII’s passou por momentos de glória, apresentando uma alta surpreendente e resultados satisfatórios para os investidores. De um modo geral, a relação entre juros e o rendimento dos Fiis’s são inversamente proporcionais. Ou seja, quando um sobe, o outro tende a cair.

Atualmente, diante de um cenário mais desafiador, é consenso entre as casas de análise uma preferência maior pelos fundos imobiliários de recebíveis, que são uma ótima alternativa para diversificação e mitigação de risco, principalmente em períodos de alta volatilidade do mercado. Dado o cenário macroeconômico com perspectiva de inflação e juros em patamares mais elevados no curto e médio prazo, a relação de risco-retorno fica mais atrativa nesse tipo de fundo.

Nos fundos de recebíveis, a maior parte dos recursos obtidos é para investir em ativos de renda fixa como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), Letras de Crédito Imobiliário (LCI), entre outros. Essa modalidade também é chamada de fundo de papel e se diferencia dos fundos de tijolo, que utilizam o recurso para investir diretamente em um empreendimento imobiliário, seja galpão, residencial, comercial ou escritório. Importante ressaltar que, apesar dos fundos de recebíveis investirem em produtos de renda fixa, não são fundos de Renda Fixa. Sua cota é negociada em bolsa assim como as ações, e o preço pode oscilar e gerar perda patrimonial.

Assim como todo investimento, neste também existem vantagens e desvantagens. No caso dos fundos de recebíveis, os destaques são: 1) a liquidez de mercado; 2) menor risco em relação aos FII’s de tijolo por não ter taxa de vacância;3) diversificação do risco; 4)rendimentos normalmente mais altos, já que esses fundos tendem a possuir dívidas lastreadas aos indexadores de inflação (IPCA ou IGPM) e também ao CDI. Dessa forma, os rendimentos mensais são pagos com o acréscimo.

Já em relação às desvantagens, existe a complexidade da análise de crédito. Como são vários CRI’s para compor a carteira, para analisar a qualidade do fundo é necessário avaliar diversos pontos, como garantia, lastro e qualidade do devedor. Lembrando que o capital está sendo aplicado no setor de construção civil, o que significa que, em caso de queda do mercado imobiliário, o fundo pode ser impactado negativamente.

Ainda que os Fii’s estejam passando por um momento mais turbulento, nem tudo está perdido. Muitos ativos, principalmente no segmento de recebíveis, ainda remuneram bem acima da Selic. Vale lembrar que, apesar da preferência nesse segmento, é importante que o investidor tenha uma carteira diversificada e não corra um risco de concentração apenas pela busca de melhores rendimentos. Assim como em várias áreas da nossa vida, a diversificação existe para que possamos mitigar os riscos e trazer mais estabilidade nos investimentos 

O autor Guilherme Dambros é assessor de investimentos na Atrio Investimentos – [email protected]

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