POR DEBORAH TONI
O Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, comemorado em 19 de novembro, é uma data que busca encorajar as mulheres a liderarem seus próprios negócios e que, por consequência, nos força a relembrar as conquistas por elas obtidas ao longo das últimas décadas.
Há menos de cem anos, as mulheres não tinham direito a voto ou a se divorciarem em nosso país. E, em pleno século XXI, ainda nos deparamos com mulheres que não podem exercer plenamente os direitos fundamentais à liberdade, à educação e ao emprego.
Em contraponto a essa triste realidade, o dia 19 de novembro festeja o encorajamento de mulheres que ultrapassaram as barreiras do preconceito, das dificuldades naturalmente presentes em uma sociedade ainda muito machista e que desafiaram o “sistema” para empreender seus sonhos.
Empreender já é algo naturalmente desafiador, pois a legislação trabalhista, o sistema tributário e os fundamentos econômicos do nosso país impõem elevados riscos para as atividades empresariais – que, por consequência, geram um ambiente hostil à criação e à perpetuação dos negócios.
Esse cenário de incertezas é potencializado por uma condição de gênero: ser mulher. No entanto, ao contrário do que se possa imaginar, “empreender” e “ser mulher” guardam diversas semelhanças.
Em ambos os casos, é preciso nadar contra a corrente, lutar contra o “sistema” e ser resiliente. É necessário, antes de mais nada, entender que as adversidades e intempéries fazem parte do processo e que, apenas aceitando essa condição, torna-se possível prosperar e causar a transformação que desejamos ver no mundo.
Justamente por isso, tenho enorme orgulho por ter fundado um escritório de advocacia conduzido exclusivamente por mulheres. Eis aqui, portanto, um breve depoimento de uma mulher que se lançou no mercado e que, embora duvidasse, sentiu na pele os desafios de ser uma mulher empreendedora.
Depois de doze anos de atuação no mercado jurídico – entre os quais dez integrei uma sociedade de advogados de renome –, entendi que havia chegado o momento de me lançar no que chamo de “sabedoria da incerteza” e inaugurar meu próprio escritório.
Essa decisão, tomada em um dos meus melhores momentos da carreira que trilhava dentro da sociedade de que era sócia, exigiu muita coragem. Nunca me esqueci de uma determinada aula de francês em que aprendi a tradução dessa palavra. “Courage” = “cour” + “age”, que, traduzida para o português, significa “agir com o coração”.
Sem dúvidas, a decisão por abandonar um espaço de conforto, estabilidade financeira e que me oportunizou crescimento profissional só poderia ter se baseado em uma vontade genuína do coração. Naquele momento, não imaginava que poderia eventualmente sofrer resistências, pois acreditava que seria contratada exclusivamente pelos meus atributos profissionais.
Foi assim que, da realização de um sonho sincero, o meu escritório (Deborah Toni Advocacia) nasceu em fevereiro de 2020, ano marcado por situações inesperadas e por desafios para além do que imaginava. Como a minha experiência como advogada sempre esteve amparada por uma banca de advogados consolidada e reconhecida pelo mercado como um local de excelência, nunca havia sentido na pele eventuais resistências por ser mulher – e que, hoje, me parecem acentuadas nesse mercado ainda muito masculino e conservador.
Na corrida pela busca do meu espaço, não bastava ser excelente: era preciso provar, antes mesmo de uma contratação, o diferencial do meu trabalho. Foi então que comecei a escrever e a publicar artigos, a me projetar nas redes sociais por meio da publicação de conteúdos atualizados e de relevância, a reforçar os meus relacionamentos – como por meio da MOAI, maior rede de empresários do DF da qual sou membro – e, consequentemente, a ganhar a credibilidade do público.
Em meio às dificuldades que se apresentaram, o escritório foi crescendo e muitas mulheres passaram a me procurar para relatar o que sentiam com a minha iniciativa de empreender: o orgulho da minha coragem, o medo de ousar em fazer o mesmo e, em especial, o quanto se sentiam representadas por mim.
Foi então que eu entendi que as mulheres, em geral, tinham uma capacidade maior de entender o que o escritório significa para mim. Simboliza luta, superação, resiliência, fé, coragem – e a certeza do sucesso de que empreendeu seus sonhos e propósitos porque acredita em ideais.
Apesar de o escritório não ter sido inicialmente concebido com essa ideia, hoje nos tornamos um local de trabalho constituído exclusivamente por mulheres que se entregam, se ajudam, se apoiam e que, definitivamente, entendem ser elementos essenciais para a quebra de paradigmas do mundo jurídico.
Juntas, quase dois anos após a inauguração do escritório, colocamos nossos desafios à prova, testamos a nossa resiliência e enxergamos grandes oportunidades onde muitos só visualizavam problemas. Fomos verdadeiramente empreendedoras.
Com essas quatro mulheres que embarcaram nesse projeto comigo, passei a acreditar na força e no potencial feminino, a valorizar ainda mais a incansável luta das mulheres pelo seu adequado posicionamento no mercado de trabalho e a batalhar para que sejamos todas valorizadas por nossas competências, e não por outros atributos.
Se hoje posso estar aqui testemunhando essa história recente de sucesso, isso se deve a vocês: Anna, Gabriela, Beatriz e Júlia! Obrigada por tudo!
* Advogada e sócia fundadora da Deborah Toni Advocacia
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