Unanimidade na aprovação de Alanna reacende debate sobre mérito e influência política

Nesta quarta-feira (30), véspera de feriado, o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB) aprovou por unanimidade a posse de Alanna Galdino como conselheira, marcando um momento histórico: ela se torna a primeira mulher a integrar a corte desde sua fundação. A decisão, tomada em sessão extraordinária com votos favoráveis dos conselheiros Nominando Diniz (relator), Arnóbio Viana, Fernando Catão, Antônio Gomes e André Carlo Torres, veio após semanas de embates jurídicos e questionamentos do Ministério Público de Contas (MPC-PB). Alanna, filha do presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), Adriano Galdino (Republicanos), assume a vaga deixada pelo conselheiro Arthur Cunha Lima, aposentado em 2024. Mas o que esse evento revela sobre a política e a fiscalização pública na Paraíba?
A posse de Alanna, indicada pela ALPB em 18 de março com 31 votos e nomeada pelo governador João Azevêdo (PSB), foi oficializada às 11h, logo após o julgamento. Em seu discurso, ela destacou o avanço na igualdade de gênero: “A Paraíba dá um passo firme na consolidação de políticas que enfrentam a desigualdade de gênero. Assumo com serenidade, determinada a honrar esta escolha com trabalho técnico e ético” (). A bancada feminina da ALPB, liderada por deputadas como Camila Toscano (PSDB), celebrou a nomeação como um marco de representatividade, enquanto Adriano Galdino, que se absteve na votação da ALPB, viu na filha a chance de “fazer história”.
No entanto, a unanimidade no TCE-PB não apaga as controvérsias. O MPC-PB, liderado pelo procurador Marcílio Franca, contestou a indicação, apontando indícios de que Alanna seria “funcionária fantasma” na Secretaria de Planejamento (Seplag), onde recebeu R$ 646,9 mil sem registros de atividades em 11 anos. Uma auditoria do TCE, solicitada por Nominando Diniz, reforçou que ela não comprovou os 10 anos de experiência em funções de nível superior exigidos pela Constituição, já que seu cargo era de nível médio e ela cursa Medicina em tempo integral em Campina Grande desde 2023 (). O procurador Bradson Camelo, citando a música “Evidências” em seu parecer, recomendou a devolução dos salários e a suspensão da posse por nepotismo e falta de qualificação.
A defesa de Alanna, conduzida por Solon Benevides, rebateu as acusações, chamando a auditoria de “risível” e argumentando que seu bacharelado em Direito e atuação na Seplag atendem aos requisitos de “notório saber”. Diniz, no voto, afirmou que o TCE não tem competência para anular atos da ALPB ou do governador, citando jurisprudência do STF e do TJPB, que revogou uma suspensão liminar da posse em 4 de abril. “Não cabe ao Judiciário fazer controle jurisdicional das normas regimentais da ALPB”, declarou, considerando a nomeação um “ato jurídico perfeito”. O único voto dissonante veio do conselheiro substituto Marcus Vinicius, que apoiou o MPC.
O processo expõe tensões entre legalidade e influência política. A ausência de sabatina na ALPB, justificada pela CCJ como discricionária, e a votação relâmpago em março levantaram suspeitas de favorecimento. Enquanto a base de Azevêdo celebra a coesão, a oposição, como Wallber Virgolino (PL), vê na nomeação um exemplo de “nepotismo escancarado”. O caso pode reverberar em 2026, quando Adriano Galdino, Cícero Lucena (PP), e Lucas Ribeiro (PP) podem disputar a sucessão estadual, enfrentando possíveis nomes como Romero Rodrigues (Podemos), Pedro Cunha Lima (PSD) e Efraim Filho (União Brasil).
Alanna Galdino, aos 35 anos, entra para a história do TCE-PB, mas com um desafio: provar que sua nomeação foi por mérito, não por sobrenome. Em um estado onde o TCE multou uma OS em R$ 11 milhões por irregularidades no Hospital Metropolitano, sua atuação será escrutinada. A unanimidade de hoje pode ser um marco — ou apenas o começo de um debate maior sobre transparência e independência na fiscalização pública.

Seja o primeiro a comentar on "Alanna Galdino toma posse como conselheira do Tribunal de Contas da Paraíba sob controvérsia"