Com salários elevados e pouca ação visível para melhorar os serviços públicos essenciais, como a saúde, fica difícil não questionar onde estão as prioridades dos vereadores
Eu nunca fui muito de compartilhar experiências pessoais, especialmente aquelas que me colocam em uma posição vulnerável. No entanto, o que vivenciei nesta terça-feira, 09 de abril, foi tão impactante que sinto a necessidade de torná-lo público, na esperança de que minha história possa servir de alerta e talvez evite que outras pessoas passem pelo mesmo desrespeito e dificuldades que enfrentei.
Eu dependo de um medicamento de uso contínuo, algo que se tornou parte integrante da minha rotina diária. Para não interromper meu tratamento, preciso renovar a receita todo mês. Foi com essa necessidade em mente que me dirigi ao Posto de Saúde da Família (PSF) de Intermares, onde resido, na última sexta-feira, dia 05 de abril.
Chegando lá, deparei-me com uma situação desanimadora: a unidade estava sem médicos, e, portanto, sem atendimento. Fui informado pela recepcionista que o atendimento seria normalizado na segunda-feira seguinte, dia 08 de abril.
Na esperança de resolver minha situação, retornei ao PSF na segunda-feira, logo cedo. Para minha surpresa, fui informado de que precisaria fazer uma ficha de atendimento, distribuída por ordem de chegada. Apesar do esforço, continuei sem minha receita e, consequentemente, sem meu medicamento.
A recepcionista me explicou que apenas dez fichas são distribuídas por turno e que eu precisaria chegar antes das 6h da manhã para conseguir uma, apesar de as portas só abrirem às 7h. Isso significava que, faça chuva ou faça sol, eu teria que esperar do lado de fora, sem qualquer conforto, por pelo menos uma hora.
Determinado a não deixar meu tratamento ser interrompido, cheguei ao PSF antes das 6h na terça-feira, 09 de abril. A funcionária chegou atrasada, e o processo de distribuição das fichas foi caótico. Mesmo sendo um dos primeiros a chegar, observei pessoas que chegaram bem depois de mim sendo atendidas antes.
Quando questionei as funcionárias sobre o que estava acontecendo, a resposta foi que aquelas pessoas tinham horários agendados, uma opção que, segundo me foi informado anteriormente, não estava disponível.
Minha frustração atingiu o ápice quando finalmente fui atendido, apenas para descobrir que outros pacientes, também insatisfeitos, haviam passado por situações semelhantes. Essa experiência não só me fez questionar a eficiência e empatia do sistema de saúde local como também me fez refletir sobre a atuação dos vereadores de Cabedelo, especialmente em um ano eleitoral.
Com salários elevados e pouca ação visível para melhorar os serviços públicos essenciais, como a saúde, fica difícil não questionar onde realmente estão as prioridades de nossos representantes.
Compartilhar essa experiência é difícil, mas necessário. Espero que, ao trazer minha história à luz, possa encorajar uma reflexão mais profunda sobre como podemos, coletivamente, exigir e implementar mudanças significativas no sistema de saúde pública, garantindo que todos tenham acesso ao atendimento e ao respeito que merecem.
Na narrativa de minhas recentes adversidades ao tentar acessar a receita de medicamentos de uso contínuo, surge uma crítica incontornável não apenas ao sistema de saúde local, mas também à gestão da Prefeitura de Cabedelo. Ao refletir sobre as dificuldades enfrentadas — desde a falta de médicos e a desorganização no sistema de fichas até a espera ao relento sem qualquer infraestrutura de acolhimento —, a administração municipal se destaca como uma peça central desses problemas.
Atualmente, os vereadores de Cabedelo recebem salários de R$ 8 mil por mês, uma quantia já substancial. Contudo, a partir de janeiro de 2025, esse valor sofrerá um aumento expressivo, saltando para R$ 13 mil mensais. Este aumento salarial, especialmente em um contexto de serviços públicos deficientes, coloca em xeque a alocação de recursos pela Prefeitura e levanta sérias questões sobre a fiscalização e priorização de melhorias essenciais para a população.
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