Por Cynthia Catlett e Daiane Nabuco
Uma sequência contínua de notícias negativas sobre o Brasil transmite a imagem de um país imerso no caos. A economia está em recessão. A inflação beira os 10%. A Petrobras está atolada em uma investigação de corrupção. Talvez ainda mais preocupante seja o fato de que o sistema político brasileiro foi abalado por diversos escândalos de corrupção, culminando com o Impeachment da presidente Dilma Rousseff, afastada do cargo enquanto aguarda o resultado de seu julgamento.
Entretanto, em meio ao caos ainda há motivos para otimismo. Para começar, o Brasil está lidando com seus problemas. O clamor da população pela responsabilização de seus governantes está sendo levado a sério. O País deve ainda destravar setores-chave da economia, como a extração mineral e de petróleo e gás, na tentativa de se abrir mais ao mercado global. Além disso, o Brasil continua a ser a maior economia da América Latina e os avanços realizados ao longo da última década, incluindo a redução da taxa de pobreza de 17,3% em 2006 para 7,4% em 2014, são inspiradores.
Desse otimismo surgem oportunidades. Embora o Brasil ainda enfrente desafios consideráveis no caminho para a recuperação, a combinação de ativos subvalorizados com as expectativas de um governo que favoreça os negócios tornam muitos dos setores da economia atraentes para investidores. É preciso agir com cautela, mas este é o momento certo para investir em quatro grandes setores: Agricultura, Educação, Imóveis e Energia.
A Agricultura, por exemplo, é especialmente importante para a economia brasileira, registrando um crescimento interanual de 1,8% no segundo trimestre de 2015, apesar da contração generalizada. Há perspectivas de ganhos recordes na produção de soja, café e açúcar para este ano, enquanto a safra de milho deve chegar perto do recorde. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) fez mudanças regulatórias para permitir a exportação de carne bovina brasileira para o país. No entanto, é preciso ter certo cuidado, pois investidores estrangeiros são obrigados a formar parcerias com empresas locais, ficando assim expostos a diversos riscos jurídicos, operacionais, financeiros e de reputação. Além disso, a falta de infraestrutura e logística adequada no Brasil ainda é um empecilho para a indústria.
No setor imobiliário, a recente recessão econômica e a subsequente crise de liquidez oferecem oportunidades para investidores estrangeiros adquirirem imóveis com descontos substanciais. Uma série de empresas de private equity e bancos de investimento montaram fundos de investimento voltados para o setor imobiliário brasileiro e muitos investidores estrangeiros estão negociando descontos substanciais – às vezes até acima de 60% – em ativos imobiliários tóxicos. É preciso apenas estar atento aos ativos imobiliários tóxicos, muitas vezes sobrecarregados de obrigações legais, incluindo ações trabalhistas, administrativas e ambientais. Outro ponto a se observar é a questão do custo das transações imobiliárias no Brasil, que está entre os mais altos na região, além da alta exposição dos fluxos de caixa a flutuações econômicas, disponibilidade de crédito e taxas de juros.
Sobre o sistema de educação pública do Brasil, o setor não está conseguindo acompanhar o crescimento recente da classe média, que demanda mais qualidade nas escolas e expansão de acesso para mais alunos. Simultaneamente, o governo incentiva o investimento no ensino privado. Isso acaba criando a necessidade de um sistema educacional mais efetivo.
O País mantém dois programas públicos, projetados para ajudar a oferecer mais oportunidades na educação: o Plano Nacional de Educação, que irá quase duplicar o investimento na educação pública, aumentando gradualmente até que o total alcance 10% do PIB, e o Pro-Uni, que garante a estudantes de baixa renda bolsas parciais ou integrais em universidades privadas. É preciso estar atento ao fato de que muitas instituições privadas de ensino estão sendo questionadas sobre possíveis práticas fraudulentas associadas a baixos níveis de graduação ou à dificuldade de colocação de trabalho para alunos formados. Por isso, recomenda-se que investidores tenham cuidado ao considerar parcerias. Com o novo governo, os cortes no orçamento previstos para programas públicos devem afetar a educação pública.
Em relação ao mercado energético, ainda em 2013, a Agência Internacional de Energia informou que o Brasil poderia suprir um terço da demanda de petróleo do mundo até 2035. Essa abundância ainda está lá, esperando para ser extraída, refinada e levada ao mercado. O Pedefor, decreto da presidente Dilma Rousseff assinado em 2016, reduz algumas das exigências de conteúdo local para a indústria de petróleo e gás. Além disso, o Brasil está renovando diversas concessões para exploração offshore, que provavelmente serão isentas das exigências de conteúdo local. As expectativas são de uma maior liberalização das atividades downstream, com uma tendência rumo a uma política de preços mais voltada para o mercado de combustíveis. No entanto, a indústria de petróleo e gás está no foco da Operação Lava Jato e dos escândalos de corrupção investigados, que devem repercutir por muitos anos ainda. Muitas empresas locais já estão ou estarão sujeitas a diferentes formas de disputa, resultantes de ações legais e regulamentares. Talvez mais do que em qualquer outra indústria, os governos federal, estaduais e municipais continuarão a intervir seletivamente a pedido de investidores estrangeiros, muitas vezes de forma imprevisível.
Apesar do cenário de pouca perspectiva mostrado na mídia, é possível observar que há luz no fim do túnel. O necessário é ter uma visão de negócios que enxergue além, sem perder o foco nos perigos e tendo em mente as particularidades do mercado brasileiro.
Cynthia Catlett é diretora executiva da FTI Consulting.
Daiane Nabuco é diretora da FTI Consulting.
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