Por Ricardo Callado
Há anos que a política do Distrito Federal vem sendo conduzida por forças ocultas. O clima de conspiração é constante, em alguns momentos com maior intensidade, em outros, passa despercebido, mas nunca dá certo.
Gravações fazem parte do dia a dia. Tem quem grave para denunciar algo que acha errado, e os que querem obter vantagens. Existem ainda os que grampeiam para tirar proveito político, e os que fazem por precaução, para que no futuro não seja enrolado em algum esquema fraudulento.
Quando surge uma gravação como a feita pela deputada Liliane Roriz (PTB), o mundo político fica em polvorosa. É uma ação que pode desencadear várias reações e, como a maioria não sabe de onde vem o tiro, fica no meio do fogo cerrado podendo ser atingido a qualquer momento por um grampo perdido.
Hoje, qualquer palavra fora do contexto ou bem editada pode acabar com uma carreira política e criar uma crise institucional grave. Isso vale para o atual momento e para as futuras gravações.
Quem não se lembra da gravação feita no gabinete do próprio governador Rodrigo Rollemberg (PSB)? Causou uma confusão tamanha. Muitas acusações entre o Legislativo e o Executivo, até que se descobriu o autor da gravação e a investigação foi abafada.
O problema muitas vezes não é nem o teor do que se conversa, mas a própria gravação. Se alguém for grampeado passando uma lista de compras de supermercado para a feira de sua casa e foi divulgado, a maioria das pessoas nem irá prestar atenção ao que está sendo dito.
O gravado é condenado sumariamente. Bastam sair os dois quadradinhos numa tela de TV com as conversas, ou em notas de coluna de jornais e blogs, dependendo do tratamento que se dará. Existem especialistas nisso.
No caso da gravação no gabinete no Buriti, muito foi dito e nada foi provado. O momento serviu para, entre outras coisas, quem gravou conseguir emplacar seus interesses e ainda tentar colocar a culpa em quem nada tinha a ver, e afastar o governador da realidade.
O grampo mais recente precisa ser investigado, e que as conversas sejam colocadas em ordem. As forças ocultas, muitas vezes travestidas de paladinos da moralidade, com ficha corrida em muitos governos, se mantêm permanentemente com o dedo apontado.
Que a mesma lição sirva para os próximos grampos. Em breve, Legislativo, Executivo e Ministério Público poderão, de mãos dadas, protagonizar uma nova crise política no Distrito Federal.
A Caixa de Pandora deixou muitos ensinamentos. A condução da política de forma correta e leal deve ser obedecida com rigor. O trato com a coisa pública tem de ser rigorosa, mas sempre existem os desavisados, dentro e fora do governo e do Legislativo.
O ex-governador Agnelo Queiroz (PT) é um caso a ser estudado. As lições que ficaram do governo passado deveriam ser aprendidas para não ser repetidas, mas nem sempre quem está no poder consegue se conectar com a realidade. A razão é deixada de lado.
A cada crise as forças políticas do Distrito Federal vão diminuindo. Já não temos lideranças natas. O que sobrou foram grupos políticos formados por ocasião ou por divisão de poder, e o poder se esvai muito rápido. Dura bem pouco. Não adianta apenas ter o poder, é preciso a perspectiva dele. 2016 acabará de forma melancólica.
O próximo ano será de nova formatação de forças políticas visando a eleições de 2018. Com o fim do impeachment e das eleições municipais, o foco estará novamente voltado para a política do dia a dia. Partidos e políticos irão se reorganizar. Quem sobreviver às denúncias e não estiver aliado a um projeto grampeado e furado, chegará às eleições com chances.
A política de Brasília deveria ter um gabinete permanente de crise. Esse é um segmento que deve crescer muito no DF. Assim como uma constante assessoria de análise política e de mídia. Há os que preferem arapongas e palpiteiros. Cada um tem seu estilo e o seu destino. #ficaadica
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