Por Fábio Rodrigues
Que brasileiro é apaixonado por carros todo mundo sabe. E esse cenário vai além, quando observamos os profissionais das indústrias de autopeças. As pessoas que trabalham no setor são, em grande maioria, totalmente envolvidas com carros, guardam memórias do primeiro veículo da família, aquele carro do avô ou o que sempre sonhou. A partir daí se especializam em funções relacionadas a cada realidade.
Podemos afirmar que o mercado de autopeças no nosso país, e fortemente o segmento de colisão, foi criado por empresas familiares que abriram suas fábricas impulsionadas não só pela rentabilidade do negócio, mas por fazerem o que gostam e acreditam. E o que falar dos prestadores de serviços desse setor? Assim como os varejos, latoeiros, funileiros e mecânicos também direcionam seus negócios movidos pela paixão por automóveis.
Esse entusiasmo em relação aos carros está totalmente arraigado em nossa cultura, com reflexos diretos à importância da atuação de toda a cadeia de reposição, inclusive porque somos carentes da infraestrutura de transportes públicos. Por conta disso, muitas pessoas utilizam seus veículos de passeio tanto na rotina do dia a dia quanto para trabalhar. Esse contexto gera uma demanda robusta não só na produção de veículos, mas principalmente na reparação e manutenção preventiva da frota.
Além disso, o trabalho executado no mercado de autopeças é fruto de atividades manuais, com um amplo campo de atuação. Os resultados deste movimento se comprovam em dados concretos sobre a grande capacidade de geração de empregos que a cadeia de reposição exerce.
Para se ter uma ideia, segundo dados do Sindipeças – Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores – o emprego no setor aumentou 8,1% em 2018 e para o final de 2019, espera-se um novo índice positivo nesse quesito, percorrendo desde a indústria, até prestadores de serviços, varejistas, distribuidores, profissionais que movimentam os estoques etc.
Apesar da redução significativa na venda de automóveis nos últimos anos, principalmente com a instalação da crise econômica em meados de 2015 que, entre outros fatores, ocasionou a dificuldade de acesso ao crédito, o mercado de reposição se mantém em alta. Isso porque além da necessidade de utilização dos carros, há a mudança de mindset do consumidor, que aumentou o interesse pela frota de automóveis usados, que contam de cinco até vinte anos de circulação.
Informações da ANFAPE – Associação Nacional dos Fabricantes e Comercializadores de Autopeças para o Mercado de Reposição – destacam que além da procura pela frota antiga, os consumidores repensam a hora de trocar de carro e permanecem mais tempo com o veículo, que se tornou um bem necessário, realizando com maior frequência a manutenção preventiva, o que garante economia e segurança aos motoristas.
Mesmo assim, estamos em um momento de geração de novas tecnologias. Em países desenvolvidos, as categorias modernas de veículos transitam com certa frequência pelas ruas. Apesar de chegarmos a esse cenário de forma mais lenta, sem dúvidas, chegaremos a ele. Não há como fugir.
As perspectivas da utilização de carros elétricos e autônomos é bem expressiva e será imprescindível a adequação da força de trabalho do setor. Os profissionais da cadeia de reposição deverão estar ainda mais especializados e preparados para lidar com tecnologias diferenciadas e com o funcionamento de softwares. Haverá a necessidade de buscar maior eficiência nos conhecimentos, pois a expectativa é também a formação de novos nichos com demandas específicas para o segmento de autopeças.
Existe otimismo em relação à retomada de crescimento no mercado de forma geral. Mas executivos da ANFAPE apontam que esse retorno depende do andamento de diversos fatores, como a estabilização dos conflitos políticos e a aprovação das reformas da previdência e tributária. Essas reformas devem auxiliar na confiança dos investidores, o que fortalecerá ainda mais a geração de empregos.
Acredito que a reforma tributária seja a mais importante nesse contexto, pois irá impactar diretamente no fôlego dos consumidores para aumentarem o poder de compra. A principal mudança deve ser o comprometimento de todos os brasileiros. Falando diretamente a nossa cadeia, a união é necessária para nos fortalecer. Incluo neste contexto toda a população envolvida com o mercado de autopeças, desde os consumidores finais até funileiros, distribuidores e indústrias, para que possamos defender as nossas “bandeiras” e nossas expectativas com relação à política.
Precisamos solicitar, verificar e acompanhar o que os parlamentares têm feito para auxiliar o setor de autopeças. Também devemos nos associar às entidades de classe, como a ANFAPE, que luta pela sobrevivência de nosso mercado frente à tentativa de monopólio das montadoras. Dessa forma, o objetivo do segmento de fornecer peças e serviços a preços justos, além da disponibilidade de itens para carros que compõe a frota antiga, irá se manter e crescer ainda mais. A união, sem dúvidas, fortalecerá todos os envolvidos.
Fábio Rodrigues é diretor de Comunicação da ANFAPE – Associação Nacional das Fabricantes e Comercializadores de Autopeças para o Mercado de Reposição – e Diretor de uma das mais importantes empresas do mercado de reposição no país, a Ponteiras Rodrigues. O executivo soma grande experiência e conhecimento no setor automotivo, em seus 12 anos de atuação.
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