Por Ricardo Callado
Não existe hoje um político com mandato em Brasília que possa reunir um mínimo de três parlamentares e se apresentar como líder. Na política local, é cada um por si.
Grupos são formados não sob uma liderança, mas por conveniências político-eleitorais, e isso é ruim para a cidade. A ausência de líderes deixa a política sem um norte e causa a fragmentação de ideias e ideais.
Ninguém defende Brasília, cada um busca defender o seu curral, o seu segmento. Não existe planejamento a médio ou longo prazo. Não existe união em torno de projetos que possam contribuir para a qualidade de vida do brasiliense. É tudo de curto ou curtíssimo prazo, de retorno imediato e midiático.
O ex-governador Joaquim Roriz, com todas as críticas que recebeu, foi sim o único líder que o Distrito Federal possuiu. No auge dos seus 80 anos, completados nesta quinta-feira (4), muitos políticos tentam descobrir como unir um grupo político e conseguir governar com tranquilidade para a sociedade.
Depois de Roriz, todos fracassaram. Foram eleitos José Roberto Arruda, Agnelo Queiroz e Rodrigo Rollemberg. Maria de Lourdes Abadia assumiu por ter sido vice e Rogério Rosso por eleição indireta.
De uma forma ou de outra, todos se atrapalharam e hoje não representam um grupo político. Agregam apenas os assessores mais próximos e alguns não conseguem apoio do próprio partido.
A nova direita se acha autossuficiente e se perde pela falta de união. A divisão nas últimas eleições serve de lição. As derrotas em sequência baixaram a crista de muitos deles.
A velha esquerda conservadora, arrogante e ultrapassada não renovou o discurso. Só acrescentou o hábito de rotular os adversários como a “velha política”, ao mesmo tempo em que pratica o que critica. Bate carteira e sai gritando pega ladrão.
O termo “velha política” é uma das imbecilidades criadas nos últimos tempos. Não existem nem velha ou nova, existe a política feita da maneira correta. Que traga benefício ao povo.
Seguir os caminhos de Roriz não é uma missão difícil, basta fazer o fácil. Exercer o diálogo permanente e ciscar para dentro, sem retaliações e agregando aliados. Ninguém se torna um líder praticando a estratégia da discórdia.
Um líder se molda no compromisso assumido, na confiança e com uma base social construída com simplicidade.
Quem quer ser candidato a governador ou a senador tem de construir um projeto com pessoas, não afastá-las. Ninguém é candidato de si próprio ou de gabinetes, isso nunca deu certo. É preciso ter um grupo consolidado e ir para as ruas. Partidos às vezes mais atrapalham do que contribuem. Ninguém vota em legenda, por mais honesta que seja a sua mensagem.
Não existe, hoje, uma terceira via. Não existem favoritos para 2018. Por isso, tantos políticos se arvoram a serem candidatos. Na reta final, quando se afunilar as eleições, devem ficar apenas dois nomes: o atual governador Rodrigo Rollemberg (PSB), representando a esquerda, e Tadeu Filippelli (PMDB), se apresentando como alternativa da direita e do rorizismo.
Nem Rollemberg pode ser classificado como a velha esquerda, tampouco Filippelli traz o ranço da nova direita. Ambos vão ter de se apresentar ao eleitorado como alguém que consiga governar para o povo e organizar a máquina pública, e saber se comunicar.
Se um dos dois conseguirá se tornar um líder político, o tempo dirá. Uma das frases preferidas de Roriz era: “governar é definir prioridades depois de ouvir o povo”.
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