Assinatura de termo de cooperação técnica entre governo de Brasília, UnB e Escola Superior de Ciências da Saúde permite acompanhamento de doenças crônicas causadas pela atuação no antigo lixão. Formalização de parceria ocorreu nesta quinta (26), no Palácio do Buriti
O acompanhamento de saúde dos catadores de material reciclável do antigo lixão da Estrutural foi reforçado com a assinatura de acordo de cooperação técnica entre o governo de Brasília, a Universidade de Brasília (UnB) e a Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs).
A parceria, formalizada nesta quinta-feira (26), permitirá a análise de possíveis alterações provocadas pela atividade laboral. O governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg, acompanhou a cerimônia, no Palácio do Buriti.
O estudo Água, Ambiente e Saúde: o impacto na condição de vida dos catadores de materiais recicláveis é desenvolvido por professores e estudantes do programa de extensão Pare, Pense, Descarte, do Campus Ceilândia da UnB.
Na primeira etapa do projeto, 1.083 catadores foram entrevistados e submetidos a exames de sangue, pesagem e medição de altura. Os materiais foram coletados por estudantes estagiários da Escs na Unidade Básica de Saúde nº 3 da Estrutural.
“Com o levantamento, temos elementos para fortalecer o trabalho da Secretaria de Saúde junto a essas famílias para que elas possam ter uma vida cada vez melhor”Rodrigo Rollemberg, governador de Brasília
O monitoramento da saúde dos catadores é um dos desdobramentos dos esforços para a desativação do antigo da lixão da Estrutural, em 20 de janeiro deste ano.
A ação integrada de diversos órgãos do Executivo local permite uma mudança na qualidade de vida dos trabalhadores que lá atuaram durante anos, como defendeu o governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg.
“Com o levantamento, temos elementos concretos para fortalecer o trabalho da Secretaria de Saúde junto a essas famílias para que elas possam ter uma vida cada vez melhor”, afirmou.
Os resultados estabelecem as bases para a definição do perfil dos trabalhadores que atuavam no local. Os dados indicam que:
- 67% dos entrevistados são do sexo feminino e 33%, do masculino
- 57,6% têm idade entre 31 e 50 anos
- 87,6% se autodeclararam pretos ou pardos
- 80% têm até ensino fundamental completo
- 61,6% são solteiros
- 63,1% têm dois filhos ou mais
- 75,4% exercem a função há mais de seis anos e, desse total, 20% atuam há mais de 16 anos na atividade
- 67% afirmaram já ter sofrido acidente no local de trabalho
Em relação às testagens, os pesquisadores aplicaram os seguintes exames:
- 71,8% para sífilis
- 80,3% para HIV
- 87,3% para hepatite viral tipo A
- 87,9% para hepatite viral tipo B
- 87,2% para hepatite viral tipo C
Estudo subsidia acompanhamento da saúde de catadores
A partir dos exames, será possível fazer o diagnóstico individualizado de cada participante e, então, tratamento específico para cada caso.
A segunda etapa do projeto partirá para uma avaliação qualitativa dos efeitos diretos do trabalho no lixão no aparecimento de doenças crônicas.
O fim das atividades foi construído com a participação de todos os envolvidos, como lembrou o governador. “Conseguimos fazer esse processo, normalmente conflituoso em todo o Brasil, em um ambiente de diálogo”, avaliou o governador.
O processo de adaptação, segundo ele, foi bastante difícil. “Muitas cooperativas e muitos catadores passaram dificuldades no início — nós também. Mas hoje a situação é muito melhor do que antes”, observou.
Levantamento é inédito
Acompanhar a evolução da saúde de quem atuou no lixão da Estrutural e hoje trabalha em condições salubres é referência para a gestão pública da área, como lembrou o secretário da pasta, Humberto Fonseca.
67%Porcentual de catadores que afirmaram já ter sofrido acidente no local de trabalho
“Produzir conhecimento é sempre muito gratificante. [O estudo] que vai fazer uma diferença tremenda no conhecimento de saúde no mundo”, disse ele.
O trabalho acadêmico em áreas com maior vulnerabilidade do Distrito Federal incentiva a ampliação dos horizontes das instituições de ensino.
Essa é a percepção da reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão. “Esse projeto mostra a importância da interdisciplinaridade. Temos que atuar fora das caixinhas’”, comparou.
Não se tem registro de outras pesquisas com esse mote em outros países, de acordo com a professora de Saúde Coletiva, da Faculdade de Ceilândia da UnB, Carla Pintas. “A pesquisa é inédita no mundo. É única desse nível e com esse impacto. Estamos publicando um protocolo do estudo”, disse.
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