Gastos de estrangeiros no país subiu, porém número de visitantes ainda está abaixo da expectativa
Rio de Janeiro (RJ) – Historicamente, a realização de eventos esportivos de grande porte serve como um importante incentivo ao turismo internacional – no Brasil, a Copa do Mundo de 2014 trouxe um cenário animador para esse setor: o principal torneio de futebol do mundo atraiu um número recorde de turistas e aumentou a expectativa sobre o potencial dos Jogos Olímpicos. Porém, o otimismo sobre o setor não tem se confirmado, pelo menos não na mesma proporção: apesar do aumento dos gastos estrangeiros no país no último ano, o número desses visitantes sofreu uma leve queda neste período. A grande preocupação é que, mesmo com um cenário favorável, os números ainda estão muito aquém do esperado. Além disso, o interesse pelo turismo regional também sofre com as dificuldades do setor aéreo e da crise econômica.
Crescimento do turismo durante a Copa não se manteve
Apesar do bom resultado da competição de 2014, que estabeleceu um novo recorde no número de visitantes no país, a expectativa de que o evento daria início a uma série histórica não se confirmou – os resultados posteriores apresentaram leve declínio. O levantamento mais recente do Ministério do Turismo (MTur) apresentou uma queda de 1,9% no número de estrangeiros que desembarcaram no país no último ano. Mesmo assim, o relatório do MTur denota que, em relação ao período antecessor à Copa do Mundo, o número ainda é positivo: comparando o total registrado em 2013 com 2015, o crescimento é de quase 9%.
Um dos fatores observados é que o perfil desse turista passa por mudanças – boa parte deles vem de regiões próximas: 54% são de origem sul-americana, sendo que cerca de um terço vem da Argentina. Inclusive, a taxa de hermanos visitando o Brasil cresceu impressionantes 300%. A expectativa em relação ao turista estrangeiro aumentou por conta da ampliação dos gastos desses visitantes – o último levantamento do Banco Central aponta que houve uma movimentação 10,24% maior em comparação com o acumulado até maio do último ano.
Apesar das facilidades encontradas por estes visitantes como o câmbio favorável, boa receptividade e menos entraves burocráticos para entrada no país, o desembarque desse público ainda está abaixo do esperado. Com a iminente realização dos Jogos Olímpicos, o turismo internacional se tornou a principal aposta para aquecer este setor e outros segmentos indiretos – a atividade é responsável por milhões de postos de trabalho. Considerando-se o potencial do país para atividades além do evento esportivo, a estimativa do governo era de o número de turistas estrangeiros alcançarem o mesmo patamar da Copa do Mundo, especialmente porque o país possui diversos roteiros de turismo ambiental, gastronômico e de entretenimento em todo seu vasto território.
Problemas na cidade sede
Instabilidade política, problemas na organização da competição, adversidades econômicas e principalmente preocupação quanto à proliferação do Zika entre outras doenças fazem com que o cenário do turismo não esteja tão animador quanto se imaginava. Se por um lado o estrangeiro é atraído pelo câmbio favorável, por outro a sensação de insegurança acentuada pela crise no estado do Rio de Janeiro prejudica a imagem da cidade sede, colocando os holofotes da imprensa internacional sob essa questão. O clima de incerteza ainda é intensificado pelos cortes no orçamento dedicado às obras de infraestrutura e os constantes atrasos na realização dos projetos voltados para o evento.
Como se não bastasse, os problemas de saúde pública tem preocupado atletas e turistas em geral – além da epidemia do Zika, questões ambientais tem afetado a cidade olímpica. A despoluição da Baía de Guanabara, um dos principais legados prometidos para as olimpíadas, não foi concretizada: a promessa era de que 80% do esgoto seria devidamente tratado, atualmente apenas 51% dessa meta foi atingida. A principal preocupação é que estudos indicam alta presença de vírus nocivos à saúde. Em contrapartida, o governo do Rio deve instalar ecobarreiras para evitar o agravamento da poluição, medida classificada como paliativa por especialistas. Tantas questões revertem o cenário favorável, ilustrando uma perspectiva não tão animadora para o turista, seja ele estrangeiro ou regional.
Turista brasileiro também sofre
O turismo regional, que poderia servir de alternativa para minimizar a perda de visitantes estrangeiros, também enfrenta adversidades. Não é de hoje que o brasileiro viaja menos: devido à crise econômica as férias estão sendo deixadas para depois. Em vista disso, o setor aéreo sofre duras penas: com a queda no turismo regional, as companhias se viram obrigadas a reduzir a oferta de assentos e, consequentemente, as passagens se tornaram mais caras.
As constantes perdas do setor configuram uma sequência de resultados negativos: números recentes da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear) apontaram o décimo mês consecutivo de baixas na demanda por passagens aéreas para destinos nacionais. Pesquisas de maio desse ano indicam uma queda considerável de 7,7% em relação com o mesmo período do ano passado. Ou seja, mesmo em ano olímpico, o evento não tem despertado interesse suficiente a ponto de que o brasileiro invista em uma viagem.
Para o especialista do setor, Francisco Lobo, o cenário já configura algumas mudanças no comportamento do turista brasileiro “Com a alta de preços, muitas pessoas tem optado por alternativas mais baratas. Tanto que o próprio Ministério do Turismo já sinalizou em levantamento recente que a procura pelo transporte terrestre voltou a crescer no país, inclusive a intenção do turista regional optar pela viagem de ônibus é a maior em 5 anos. O preocupante neste fenômeno é que, de certa forma, a popularização do transporte aéreo é uma conquista observada nos anos de crescimento econômico do pais, logo, abrir mão do conforto, segurança e agilidade desse meio é também um retrocesso para todos, ainda mais se tratando de um país de dimensões continentais.”
Para o diretor da Cash Milhas, isso não significa que o brasileiro deva abrir mão dessa comodidade, a melhor aposta é se programar e optar por meios mais acessíveis: “Uma opção ao passageiro é se valer dos benefícios dos programas de fidelidade. A modalidade oferecida por boa parte das companhias aéreas tem sido ampliada e diversificada nos últimos anos, isso significa que atualmente é muito mais fácil acumular pontos sem que seja necessário viajar com tanta frequência. O consumidor pode acumulá-los e convertê-los em milhas através de diversos canais no dia-a-dia. Dessa forma, o passageiro pode obter passagens a preços mais acessíveis, conseguir descontos na aquisição de produtos ou até mesmo lucrar com a comercialização dos mesmos, uma vez que esse negócio é cada vez mais explorado.” – explica.
Medidas para resgatar o turismo
Para que o país se beneficie através do fortalecimento do turismo, a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) intensificou as ações que promovem o Brasil no exterior. Recentemente, a campanha “Brazil is open for you!” foi apresentada pela entidade aos países de tradição olímpica: Estados Unidos, Japão, Canadá e Austrália. Além disso, o governo ofereceu a isenção de visto durante os jogos olímpicos e paralímpicos aos turistas dessas nacionalidades: por meio de lei em vigor desde o mês passado, os visitantes desses países poderão entrar de maneira menos burocrática. A medida prevê isenção do visto até dia 18 de setembro e possibilita a permanência em território nacional sem a necessidade da permissão por até 90 dias. Com a ação imediata a expectativa de público eleva de 400 para mais de 500 mil, de acordo com a Associação Brasileira de Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH – RJ), o ato é comprovadamente benéfico – pesquisas especializadas apontam que essa alternativa aumenta o fluxo de turistas em até 20%.
O turismo regional também está sendo estimulado: uma das maiores apostas do MTur para atrair o visitante regional é dar destaque ao revezamento da chama olímpica, que sendo o 4° maior já realizado, percorrerá ao todo 36 mil quilômetros de território nacional. Em 94 dias a tocha contemplará lugares de grande potencial turístico, entre tradicionais e pouco conhecidos. O passar da chama é um chamariz tanto para turistas locais quanto para quem vem de fora e para dar dimensão da diversidade brasileira em nosso vasto território, a tocha atende a todas as regiões estimulando a atividade regional e cultural. O Ministério do Turismo visa priorizar produções associadas com a valorização da gastronomia regional e com a agricultura familiar sem deixar de lado as manifestações típicas de cada região.
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