Quando o governador Tião Viana criou o programa Quero Ler, sua meta não era apenas erradicar o analfabetismo no Acre. Há um sentimento nesse projeto que o governador sempre revelou em seus discursos, o de pagar uma dívida moral e histórica que o país tem com sua população que não conseguiu frequentar uma sala de aula.
Assim, o Quero Ler é o mais ousado programa de alfabetização de adultos do país. Mesmo com todos os avanços que o Acre conquistou, cerca de 60 mil pessoas em todo o estado não possuem o conhecimento das letras. E é ensinar a todas essas pessoas a ler e escrever o objetivo desse programa até 2018.
Em suas centenas de turmas espalhadas pelo estado, o Quero Ler reúne adultos, muitos em idades avançadas, cada um com grandes histórias de vida. Assim, não é nada incomum encontrar mulheres, mães de família, que precisaram largar tudo no passado para trabalhar e se dedicar exclusivamente à criação e proteção dos filhos.
Incentivadas não só pelo governo, mas, principalmente pela família, essas mulheres fazem só agora o caminho que os filhos fizeram, colocando o livro de ensino e o caderno debaixo do braço e se dirigindo para a sala de aula.
Sebastiana Carvalho, de 51 anos, é uma dessas mulheres. Ela conta com admiração profunda que tem duas filhas, uma formada em Assistência Social e outra em Administração. Agora, a senhora que conhecia apenas o alfabeto e cortou seringa por 33 anos no interior, aprende na capital a juntar as palavras.
“Amo estar aqui na sala de aula. Vim para cá e achei ótimo, maravilhoso. Não quero sair daqui enquanto não aprender tudo, porque gosto de estudar e preciso saber ler, pois quero tocar violão, ler a letra das músicas”, revela.
Em Cruzeiro do Sul, a empregada doméstica Maria José da Costa, de 44 anos, deu um depoimento emocionante de como o Quero Ler aos poucos tem mudado sua vida. Obrigada a largar os estudos muito cedo para lutar por sua sobrevivência, Maria agora voltou às aulas com muita determinação.
Também com dois filhos, ambos universitários, foram eles os que mais apoiaram que ela fosse para a sala de aula. “Meu sentimento é de conquista. Eu tive filhos muito cedo e tive que priorizar criá-los e educá-los. Mas comecei no programa, e ler e escrever é uma sensação muito boa. É algo que eu não quero deixar de fazer. Quero muito mais, quero ir até o final”, conta a senhora.
Já Raimunda Ferreira do Carmo, de 76 anos, estuda em uma turma de uma paróquia em Rio Branco. Após conseguir o lugar na sala de aula, a senhora, mãe de oito filhos, é uma das alunas mais dedicadas.
“Eu me sinto feliz aqui, porque eu fui criada no seringal, não sabia nem escrever meu nome. Tinha aquela vergonha. Hoje em dia não. Com a professora aqui, eu já sei assinar meu nome direitinho e ler um pouquinho, já entendo muita coisa. Tinha falado com o padre e ele deixou a gente ficar aqui. Agradeço não só por mim, mas por todos”, conta.
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