Quando a estatal russa de energia nuclear Rosatom abriu um escritório regional no Rio de Janeiro em junho de 2015, a empresa não imaginava a dimensão da crise política e economia brasileira apenas um ano depois. Durante o maior fórum internacional de energia nuclear na Rússia, Atomexpo 2016, na primeira semana de junho, o vice-presidente da Rosatom na América Latina, Ivan Dybov, admitiu que grandes negócios no Brasil terão de esperar, até que o cenário político se estabilize, mas comemorou avanços nas áreas de radioisótopos, agricultura, entre outras.
“Com a Lava Jato, os negócios diminuíram o ritmo. Talvez haja algum adiamento em futuras parcerias para usinas nucleares, mas temos outras possibilidades de negócios no Brasil e em diferentes países também interessantes e lucrativos. Somos os maiores fornecedores de radioisótopos no Brasil, temos um grande projeto na Bolívia, estamos discutindo vários projetos de radiotecnologia na região”, disse Dybov “Há também a possibilidade de prover insumos para a agricultura, esterilização para ferramentas médicas e equipamentos médicos para toda a América Latina, que é um parceiro estratégico”.
Dybov mencionou ainda a possibilidade de construir um depósito de lixo radioativo para a Eletronuclear, que opera as Usinas Angra I e II, em Angra dos Reis, costa verde fluminense.
O vice-diretor geral da estatal Rosatom, Kirill Komarov também se mostrou otimista em relação às parcerias comerciais com o Brasil.
O Brasil também tem motivos para comemorar. De acordo com o diretor de produção do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), Jair Mengatti, o fornecimento de produtos radioisótopos da Rússia para o Brasil permitiu que o governo brasileiro reduzisse pela metade os gastos com insumos que ajudam a diagnosticar e tratar vários tipos de câncer. O Ipen é o principal produtor de radiofármacos no país e enfrentou problemas no ano passado para conseguir alguns insumos, como o Iodo-131, agora 100% importado da Rússia.
“Até o fim do ano passado, nosso fornecedor era do Canadá e depois do processo de licitação passamos a receber da Rússia. Economizamos por semana em torno de US$100 mil. São mais de R$10 milhões por ano de economia”, disse o diretor do Ipen.
Mengatti, que também é gerente do Centro de Radiofármacos do instituto, visitou com outros técnicos as instalações da parceira russa. “A capacidade de produção deles é impressionante, uma quantidade enorme de reatores. Alguns insumos podem ser irradiados lá e poderemos processá-los aqui. Já temos uma lista de novos insumos e como temos acordo bilateral, podemos estabelecer parcerias estratégicas, sem licitação, desde que nos seja interessante do ponto de vista econômico”, explicou. Dentre os itens da lista, estão gálio 67 e cloreto de tálio, ambos usados para diagnósticos.
Nuclep e Rosatom
Um dos convidados do AtomExpo 2016, o presidente da Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), Jaime Cardoso, informou que os negócios com a Rússia podem ajudar a empresa, que chegou a ter cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos e agora tem 1 mil, a aumentar a produção. Segundo ele, a empresa, é de economia mista e vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e subordinada à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), foi prejudicada pela crise econômica e pela Petrobras, sua principal cliente.
“Estamos ampliando a discussão do memorando que foi assinado, inclusive pelo presidente Temer [na época, vice-presidente] e o primeiro ministro russo [Dmitry Medvedev] no ano passado. Tornamo-nos fornecedores internacionais de equipamentos nucleares para a Rosatom. Agora estamos estudando outras formas de cooperação como joint ventures para que esse fornecimento se torne mais efetivo especialmente para o mercado latino-americano”, disse ele, ao adiantar que memorando similar foi assinado com a americana Westinghouse e outro está sendo negociado com a francesa Areva.
Cardoso informou que o processo de impeachment gerou insegurança entre os parceiros e que a viagem serviu para assegurar a continuidade dos compromissos apesar da mudança repentina de governo. “Um dos motivos de estarmos aqui é garantir a tranquilidade dos parceiros, que os acordos firmados serão cumpridos. Estivemos antes na França para garantir que podemos continuar os entendimentos, que não haverá ruptura na administração da empresa”, declarou.
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