Artigo | Democracia embrionária e o repúdio equivocado no Brasil


Policiais esfaqueados; jovens feridos; muros, calçadas e paredes pichadas; vidros quebrados; carros incendiados; luminárias, lixeiras, orelhões, paradas de ônibus e placas danificadas; contêineres virados; e bicicletário destruído.

Essa foi a forma como nós, brasileiros, pagamos por anos de submissão e leniência frente aos nossos direitos civis. O gigante adormeceu por tanto tempo que despertou sem nenhuma noção de ordem ou previsão de progresso.

Após pouco mais de trinta anos da instauração do regime democrático, o Brasil ainda engatinha quando o assunto é o uso das liberdades individuais. Iniciamos, em 2013, um capítulo histórico quando a população saiu da inércia coletiva. Os nichos do mercado, da política, da sociedade civil se uniram para fazer jus à Constituição: “todo poder emana do povo”.

Na época, eram mais de um milhão de pessoas nas ruas. Houve uma passagem de grupos (des)organizados, mas foi aos poucos consumida pela vontade da população em seguir em frente e ir até as últimas consequências com o pleito político.

Nesta terça-feira, algo saiu do controle. Dez mil pessoas conseguiram abafar os pormenores do Projeto de Lei Anti-Corrupção – cuja expectativa era nacional -, com um vandalismo antidemocrático, violento, digno de Hollywood nos seus roteiros mais nonsense.

Essas pessoas alegaram estar em defesa dos direitos dos cidadãos, mas agiram com absoluta falta de cidadania. Tomaram para si a atenção que deveria estar nas modificações aprovadas pelos nossos parlamentares, que precisam, sim, de vigilância permanente. Um desserviço à democracia, uma barbárie que deveria ser punida conforme o absurdo causado.

Essa parcela de vândalos vai contra qualquer forma de diálogo que nós, o setor produtivo, temos conquistado junto aos governos. Não agimos dessa forma, não aprovamos essa conduta e nos envergonhamos de ainda neste início de século termos que lidar com atitudes infames camufladas de protestos. Não se manifesta mais com armas nas mãos. Não se tira do cidadão o direito à informação e à participação fundada na política nacional.

Queremos explicações, garantias de que nossos juízes não serão rechaçados no combate à corrupção, de que nossos funcionários não serão responsabilizados por detalhes mal esclarecidos, de que nossas empresas poderão continuar a oferecer produtos e serviços sem o risco de serem isoladas por processos morosos e subjetivos.

Temos preocupações com o cenário político, mas nossas restrições não justificarão a falta de zelo e respeito pela Constituição, pela população ou pelo patrimônio público. O setor produtivo, a indústria, a Tecnologia da Informação, a Comunicação continuam a buscar a transparência no governo, a lisura no processo democrático, a moralização na política. Faremos isso lutando pela participação ativa no Congresso Nacional por meio das representações de classe, pela qualificação da mão de obra, pelo pleito de legislações mais realistas, pela criação de oportunidades de desenvolvimento humano, social e econômico.

Aqueles que pensam diferente, por favor, não gritem em nosso nome!


Ricardo Caldas é presidente do Sindicato das Indústrias da Informação do Distrito Federal

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