Começou hoje (25) no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro a série Diálogos sobre o Feminismo, que vai acontecer uma vez por mês e também será levado aos CCBBs de São Paulo e de Brasília. O objetivo é buscar o reconhecimento das mulheres nas artes e propor novas perspectivas para a análise de trabalhos de artistas brasileiras.
De acordo com a artista plástica e pesquisadora em artes visuais Roberta Barros, uma das organizadoras do evento, o ciclo teve origem no debate sobre o mesmo tema, em fevereiro, no Centro Cultural Hélio Oiticica, que mostrou a necessidade de se ampliar o debate sobre as mulheres na arte.
“Vamos ter quatro bancas. Hoje é uma questão mais historiográfica, a próxima é sobre a dificuldade das artistas assumirem que seu trabalho falam de questões de gênero. A terceira é sobre corpo, beleza e política e na quarta serão as mulheres negras, com a questão do racismo e do machismo”.
Na abertura, foram apresentadas as performances Não alimentem os animais, de Jaqueline Vasconcelos, e Abdução para pequenas revoluções, de Anna Behatriz Azevêdo. Anna, que trabalha com artes visuais e dança, diz que seu trabalho não é exatamente feminista, mas perpassa questões que afetam a mulher e defende a importância de dar visibilidade ao tema.
“É de extrema importância trazer o foco para essa questão do feminino e do feminismo, principalmente nesse momento que nós estamos vivendo no país, em que existe uma bancada masculina como um todo e as pessoas que são consideradas à margem são mais rechaçados ainda.”
O primeiro encontro da série teve palestra de Heloísa Buarque de Hollanda e Ana Paula Cavalcanti Simioni, com mediação de Roberta Barros.
Ana Paula, professora do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP), falou sobre a inserção das mulheres no mercado e lembrou que, ao contrário de outros países, no Brasil as obras de artistas mulheres estão no topo da lista das mais caras, como as assinadas por Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Lygia Clark, Mira Schendel e Tarsila do Amaral. No entanto, segundo a professora, os trabalhos que alcançaram altos valores em leilões não falam de questões de gênero.
“Se a gente pegar a obra da Adriana Varejão, não é necessariamente feminista. Trabalha com memória do Brasil, política, às vezes isso tensiona e se relaciona com a questão do gênero, mas outras vezes diz mais respeito à raça, experiência de colonização. A Beatriz Milhazes também não é uma artista que necessariamente coloque a temática feminista em primeiro lugar”, analisou.
Representação
A professora da USP destacou que a presença de mulheres no mercado da arte não necessariamente altera a percepção de que os gêneros são desiguais. “É um setor muito elitizado, que tem um impacto social muito reduzido. As obras que mais vendem não são obras que têm uma plataforma política explícita, não só do feminismo, mas políticas. São obras mais formalistas, mais abstratas ou decorativas às vezes. Isso diz bastante do que o mercado consagra.”
A pesquisadora Heloísa Buarque de Hollanda, que fez a primeira curadoria de arte feminista no país, disse que a nova geração está perdendo o medo de declarar viés político em suas obras.
“Mostrei artistas que diziam que não eram feministas. Me procuraram para montar uma exposição só de mulheres, em 2001, eu pensei que era uma exposição feminista, mas elas disseram que não queriam se identificar assim. Mas a obra delas é super feminista. O radicalismo tem isso, esse medo do nome. Mas eu acho que hoje, nessa onda conservadora que a gente está, esse perigo à vista, as feministas assumiram o nome e a luta.”
O evento será realizado no CCBB de São Paulo nos dias 9, 10, 11 e 12 de junho e no CCBB de Brasília nos dias 25, 26, 27 e 28 de agosto. No Rio, os próximos encontros serão nos dias 29 de junho, 27 de julho e 24 de agosto.
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